Atuações
do Flamengo são uma nova oportunidade para o futebol brasileiro
Tostão, na Folha
de S. Paulo
Durante a carreira, vários jogadores evoluem bastante, por
adquirirem novas qualidades técnicas, diminuírem as deficiências, passarem a
atuar em equipes de mais talento e conjunto e porque mudam de posições e
funções.
Bruno Henrique, quando atuava no Santos, passava toda a partida
correndo, encostado à lateral esquerda. Eu achava um desperdício. Hoje, ele se
movimenta por todo o ataque, além de atuar em uma melhor equipe. Gabigol, no
Santos, já era o melhor finalizador do Brasil. No Flamengo,
finaliza ainda mais e faz mais gols. Gérson era um razoável ou bom meia pelos
lados e é agora um excelente meio-campista.
Éverton Ribeiro continua tão bom e com as mesmas características
que tinha quando jogava no Cruzeiro.
Sterling, atacante do Manchester City e da seleção inglesa, era
apenas um rápido driblador, que errava demais na conclusão das jogadas. O mesmo
ocorre com Vinícius Júnior, desde que começou a jogar no Flamengo.
Sterling, ajudado por Guardiola, evoluiu bastante e é hoje um
dos grandes atacantes do futebol mundial, pois mostra muita técnica e lucidez
nas decisões, além de fazer muitos gols. Já Vinícius Júnior, no Real Madrid,
continua igual. Isso me preocupa.
Rodrygo, que foi titular no Real, no meio da semana, pela Liga dos
Campeões, foi convocado,
no lugar de Vinícius Júnior. Rodrygo não tem a força física, a velocidade e os
dribles de Vinícius Júnior, mas tem um repertório mais amplo.
Os treinadores brasileiros precisam também evoluir, aprender com
o explosivo Jorge Jesus.
O técnico implodiu chavões, lugares-comuns e vícios que infestam
nosso futebol. O Flamengo não tem dois volantes em linha, estáticos no próprio
campo, zagueiros colados à grande área, um clássico meia de ligação, confinado
entre o meio-campo e a defesa adversária, pontas que só atuam encostados à
lateral nem um típico centroavante, parado entre os zagueiros, esperando sobrar
uma bola para finalizar.
Jorge Jesus, diferentemente dos técnicos brasileiros, só poupa
titulares que tenham algum problema físico. Quando o time faz um gol na frente,
procura o segundo, em vez de recuar para contra-atacar, como é o habitual no
país.
O ótimo time do Flamengo é uma associação de excelentes
jogadores com um treinador competente. Forma e conteúdo são inseparáveis. Mas não
exagerem. Os adversários facilitam a superioridade do time carioca. Contra o River Plate,
as dificuldades serão muito maiores.
Luxemburgo, que faz um bom trabalho no Vasco, insiste, com sua
prepotência, que no futebol atual apenas mudou a terminologia e que tudo o que
se faz hoje, no Brasil e em todo o mundo, ele já fazia no século passado.
Para reconstruir o futebol brasileiro é necessária também a
reestruturação financeira dos clubes, como ocorreu no Flamengo, na
administração anterior, do presidente Eduardo Bandeira de Mello.
O futebol não pode ser conduzido por incompetentes e levianos.
Reconstruir não é voltar ao passado nem à essência do futebol,
como gostam de dizer. O mundo mudou, e o futebol não é diferente.
As coisas boas do passado precisam ser relembradas,
homenageadas, e servir de inspiração para o presente, não para serem copiadas.
Após o 7 a 1, o Brasil teve uma chance de reconstrução, dentro e
fora de campo, e não aproveitou.
As atuações do Flamengo, simbolizadas nos 5 a 0 sobre o
Grêmio, são uma segunda chance para os times brasileiros. Pode ser a
última.
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