Máquina de moer sonhos
Jorge Alexandre Neves,
Jornal GGN
Como
diríamos em minha terra natal, o ex-presidente Lula saiu da prisão “virado no
mói de coentro”. E já tascou no ministro da economia um apelido melhor do que o
de “tchutchuca dos banqueiros”: destruidor de sonhos!
Os exemplos da Espanha e
do Chile (1) se juntam ao caso brasileiro (2) para formar apenas mais um
conjunto de evidências de que o neoliberalismo é uma máquina de moer sonhos.
Lula escolheu o alvo perfeito para atacar. Naquilo que interessa à maior parte
da população – emprego, renda, dignidade – o Brasil não sai do lugar, pelo
contrário, tende a piorar.
A reforma trabalhista
completa dois anos no dia de hoje (11/11/2019). Até agora, o trabalhador
brasileiro já sentiu na pele o processo de precarização causado (pelo menos em
parte) por ela, porém os milhões de empregos formais prometidos continuam na
promessa (3). Mesmo em países nos quais reformas semelhantes foram acompanhadas
pela geração de empregos (como foi o caso da Espanha, que analisei no artigo
cujo link segue na nota 1, abaixo), a precarização do trabalho dela decorrente
levou à redução dos salários. No caso do Brasil, nem emprego nem salário. O que
temos visto até agora é apenas precarização marcada pela explosão da
informalidade (4).
A verdade é que o Brasil
saiu da recessão e desembocou numa depressão (5). Um novo indicador acaba de
ser demonstrado por Braulio Borges da FGV (6). Desde o fim da recessão, quando
se leva em consideração não apenas a taxa de desemprego, mas também o número
total de horas trabalhadas, observa-se que o mercado de trabalho se manteve
totalmente estagnado.
Nas palavras de Borges:
“Há três anos, o
desemprego era maior, mas as pessoas, em média, trabalhavam maior número de
horas. Agora, em 2019, a composição se inverteu: o desemprego está menor, mas o
número de horas trabalhadas caiu. Independentemente da composição, pode-se
dizer que o mercado de trabalho, essencialmente, não se moveu nesse período”.
Quando agregamos a esta
análise o processo de precarização ocupacional ocorrido desde então (e
acelerado este ano), fica fácil chegar a um diagnóstico ainda pior do que o de
Braulio Borges: o mercado de trabalho não ficou estático, ele se deteriorou de
forma significativa desde o período que vai do final de 2016 e início de 2017.
Se a comparação for com o período anterior à recessão, 2014, a deterioração se
mostrará chocante (7).
Entre recessão e
depressão, já vamos para cinco anos de sonhos sendo destruídos. E são cinco
anos de neoliberalismo na veia, injetado sem dó nem piedade. E as coisas não
melhoram (e não melhorarão) (8). Paulo Guedes pede que o povo tenha paciência e
lhe dê quatro aninhos para mostrar serviço, até o final do governo de Jair
Bolsonaro. Isso soou estranho para alguém que disse que tudo estaria resolvido
em um ano, pois era o prazo que precisava para zerar o déficit público. Vai ser
difícil o povo atender a sua súplica, Dr. Paulo. Enquanto isso, ao e-presidente
Lula não faltará munição.
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