Entrevista de Marcelo
Odebrecht isenta Lula, expõe erros da Lava Jato e resguarda BNDES
Odebrecht manteve com
Lula a mesma relação que tinha com FHC, mas apenas o petista é acusado de
tráfico de influência a partir das distorções criadas pela Lava Jato
Jornal GGN
Lula
não privilegiava a Odebrecht em suas viagens internacionais. O pedido para que
a empresa entrasse em Cuba era próprio dos interesses geopolíticos e comerciais
de um País. A Odebrecht, aliás, mantinha com o petista a mesma relação que teve
com FHC, intocado pela Lava Jato. E a doação eleitoral que a empresa fez
ao PT, em contrapartida a uma linha de crédito em Angola, saiu da margem de sua
lucro, não de acertos espúrios.
E tem mais: quando quebrou a reputação da Odebrecht no exterior,
a Lava Jato também comprometeu a exportação de conteúdo nacional. E, de quebra,
lançou uma cortina de fumaça sobre o BNDES, criminalizando o papel da
instituição.
Tudo
isso foi dito por Marcelo Odebrecht em entrevista exclusiva divulgada pela
Folha de S. Paulo nesta segunda (9), embora a chamada escolhida pelo jornal não
lhe faça justiça.
O diário preferiu manchetar que “Lula pediu para que a
Odebrecht fizesse um projeto em Cuba”, dando a entender que
o ex-presidente merece ter a Lava Jato em seu encalço pelo suposto crime de
tráfico de influência. Mas o que Marcelo disse à Folha contraria muito do
que foi construído pela Lava Jato.
Primeiro, Marcelo deixou claro que Lula, ao contrário do que
alegou a força-tarefa em diversas ações, não favorecia a Odebrecht em troca de
benefícios pessoais.
Quando viajava ao exterior, Lula era uma preocupação para a
empresa, porque o petista “vendia” todas as companhias brasileiras
competitivas. Colocava a Odebrecht no mesmo patamar que as concorrentes, sendo
que a empreiteira está presente em outros países há mais de 20 anos – muito
antes de Lula ser presidente, portanto.
“A gente queria se beneficiar da ida do Lula para reforçar os
links com o país e, por tanto, melhorar a nossa capacidade de atuar lá. Mas, ao
mesmo tempo, quando Lula chegava ele não defendia só a Odebrecht”, disse
Marcelo. Mas “se um presidente chegasse lá, no outro país, e colocasse
todo mundo no mesmo nível, poderia soar para o governo local do outro país como
um desprestígio do Brasil em relação à Odebrecht”, explicou.
Questionado
pela Folha se Lula interferia nos negócios internacionais, Marcelo respondeu
objetivamente: “Eu diria que, nesses 20 anos, só uma exportação teve uma
iniciativa por parte do governo brasileiro e que, apesar da lógica econômica
por trás, teve uma motivação ideológica e geopolítica, que foi Cuba.”
E ponderou: “Em todos os países, nós íamos por iniciativa
própria, conquistávamos o projeto e buscávamos uma exportação
de bens e serviços.”
Mas Lula, depois de visitar Cuba e conhecer uma estrada
deteriorada, disse que a Odebrecht poderia ajudar a levar condições melhores de
infraestrutura ao local.
A obra era interessante porque Cuba teria de contratar todos os
serviços do Brasil, gerando “emprego, renda e arrecadação” para os brasileiros.
Cuba, porém, preferiu investir na construção de casas depois de
ser atingida por um tufão, “desprezando a estrada” sugerida por Lula.
A
Odebrecht, ao final, foi quem sugeriu a construção de um porto, porque era “o
melhor para o Brasil, economicamente e do ponto de vista de exportação de bens
e serviços.”
A construção de um porto demandaria de Cuba a importação, do
Brasil, de “estrutura metálica, maquinário, produtos com conteúdo nacional.” O
financiamento do BNDES obrigava a Ilha a isso.
“Em nenhum momento, o dinheiro do BNDES vai para fora. Sempre
fica no Brasil. Não é verdade dizer que o BNDES financiava projetos no
exterior. O BNDES financiava conteúdo nacional, geração de trabalho no Brasil,
que era exportado para o exterior”, explicou Marcelo.
Para ele, a Lava Jato ajudou a lançar uma “névoa” sobre o BNDES.
“O que ocorreu nos últimos anos aqui no Brasil foi um crime. Criminalizaram
algo que nunca deveria ter sido criminalizado. Se houve um crime, foi na
criminalização do financiamento à exportação.”
“Do
jeito que a Lava Jato foi divulgada, acabou parecendo que o Brasil é o país
mais corrupto do mundo, e que as empresas brasileiras exportavam corrupção. Não
é verdade — nem uma coisa nem outra. Mas nossos competidores no mundo souberam
tirar vantagem disso. Vários países culpam a Odebrecht. Essa é uma questão que
vamos ter de superar.”
Questionado se Lula fez orientações outras à Odebrecht no
contexto internacional, a resposta foi novamente negativa e Marcelo
reforçou: “Normalmente, era a gente que conquistava os projetos e tentava
reforçar a importância política desse projeto.”
PROPINA
NO BNDES?
Folha também perguntou diretamente a Marcelo Odebrecht se
existiu superfaturamento e pagamento de propina no BNDES, durante os anos de
PT. A resposta igualmente contrariou a narrativa criada na Lava Jato.
Marcelo respondeu que o único episódio que pode ser explorado
foi Paulo Bernardo e Antonio Palocci pedindo doações eleitorais ao PT, porque
sabiam que a Odebrecht seria a principal empresa brasileira beneficiada pela
renovação de uma linha de crédito do Brasil com Angola.
“Mas esse recurso
[doação eleitoral] saiu do nosso resultado e não representou nenhum prejuízo,
nem para o país nem para o BNDES. Não teve nenhum
envolvimento do BNDES nesse assunto e foi uma única vez”, afirmou o empresário.
A Lava Jato, por sua vez, costuma procurar contratos, apontar
superfaturamento de 1% a 3%, e dizer que a doação eleitoral saiu dessa margem.
Ao final, a cereja do bolo: “Em mais de 20 anos de exportação de
serviços e durante todo governo Lula, essa foi a única vez que houve uma
solicitação de apoio financeiro [o pedido de Palocci e Bernardo] por conta de
financiamento”, apontou Marcelo, que é delator da Lava Jato.
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