Discussão sobre futebol
mais ofensivo ou defensivo é antiga
Tostão, Folha de
S.Paulo
Após o sucesso de Jorge Jesus e
de Sampaoli e
a chegada de outros treinadores estrangeiros, aumentaram bastante as
comparações entre os técnicos brasileiros e os de fora e entre os estilos mais
ofensivos e mais defensivos.
O experiente e racional Jesualdo elogiou
Sampaoli e Jorge Jesus, mas lembrou a importância da defesa e do equilíbrio. O
utilitarista Dudamel falou
que seu estilo é o de vencer e que o tempo de vitórias não é o tempo do
torcedor nem do emocional. É o tempo da razão. Não tem nada de galo doido.
Dos quatro treinadores estrangeiros confirmados em equipes de
Série A, dois são mais ousados (Jorge Jesus e Coudet) e dois são mais prudentes
(Jesualdo e Dudamel). Tão ou mais importante que a estratégia é saber fazer.
Não basta ter ótimos conceitos.
A discussão de futebol mais ofensivo ou defensivo é antiga. Em
1969, Saldanha, técnico das eliminatórias para a Copa de 1970, escalou quatro
no ataque (dois pelos lados e dois pelo centro). Apenas dois marcavam no
meio-campo.
O time fascinou a todos. Zagallo entrou e logo disse que seria
impossível ganhar o Mundial com apenas dois marcando no meio-campo. Trocou o
ponta Edu pelo armador Rivellino. O time encantou e foi campeão.
Na Argentina, discute-se, há décadas, o menottismo, a busca pela
qualidade do espetáculo, e o bilardismo, em que o importante é ganhar, seja
como for. Menotti foi campeão do mundo em 1978, e Bilardo, em 1986, com
estratégias opostas.
No Mundial de 1982, o Brasil, dirigido por Telê Santana,
encantou, mas perdeu, com um futebol ofensivo e brilhante, enquanto em 1994,
com Parreira, o time não fascinou, mas ganhou, com duas rígidas linhas de
quatro próximas à área, o que serviu de inspiração para a maioria dos técnicos
brasileiros.
Alguns dizem que gostam muito mais da seleção de 1982, mas que,
em um jogo mata-mata, apostariam na de 1994. Gosto mais da de 1982, porém, é
preciso reconhecer que a seleção de 1994, além de muito organizada, tinha
também grandes jogadores em todas as posições. Não era só Romário.
Na Europa, durante vários anos, o assunto principal era os
confrontos entre o criativo e intenso Guardiola,
técnico do Barcelona, e o pragmático Mourinho,
treinador do Real Madrid. Os dois ganharam e perderam.
Atualmente, fala-se muito no duelo de conceitos entre Klopp e
Guardiola, o que não se justifica, pois os dois têm posturas parecidas.
Liverpool e Manchester City são times bastante ofensivos,
intensos, que pressionam e recuperam a bola perto do outro gol.
Por outro lado, possuem sistemas táticos bem diferentes. O
Liverpool atua com um trio no meio-campo, que marca e ataca. No City, há um
volante centralizado e dois meias ofensivos. No Liverpool, os dois atacantes
pelos lados entram pelo meio, e os laterais avançam pelas pontas. No City, os
pontas atuam abertos, e os laterais fecham para serem armadores. No Liverpool,
o centroavante recua para organizar as jogadas, enquanto no City, o
centroavante atua mais avançado e centralizado, embora, dias atrás, o City
tenha vencido o Manchester United sem centroavante, com Agüero e Gabriel Jesus
na reserva.
Tite administra
bem os dois lados. A seleção não
é muito ofensiva nem muito defensiva. Tenta ser equilibrada, como gosta o
técnico italiano Ancelotti, ídolo de Tite.
A vida também é feita de confrontos, entre o desejo e a ética
(ou razão), entre a ousadia e a prudência e entre o caminhar mais rápido ou
mais devagar.
[Ilustração: Suzane Wonghon]
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