Entre a bravata e a realidade
Luciano Siqueira
Claro que a palavra é livre – em casa, na rua, em qualquer lugar. Inclusive em reuniões políticas de certo porte.
A realidade é muito complexa para que se contenha a expressão do pensamento em regras rígidas ou gabaritos de pretenso bom senso.
Mas quando se tem responsabilidade sobre os rumos deste ou daquele movimento ou agremiação política, vale a pena bem escolher os termos e medir o tom.
No Brasil dos nossos dias o fascismo se insinua diariamente, a partir do poder central, tentando se entranhar no tecido social. Com o apoio de parcela significativa da população, ainda que sem plena consciência do que se trata.
E em razão de uma agenda econômica excludente e entreguista, que favorece a uns tantos (que só têm a ganhar) e tem o apreço de outros tantos (estes na ilusão de que também têm a ganhar), devidamente representados por uma maioria parlamentar momentânea, as coisas acontecem sem maior resistência. Inclusive o desmonte do Estado democrático de direito.
Da parte dos que perderam a parada no pleito de outubro de 2018, uma espécie de coroamento do golpe deflagrado pouco mais de dois anos antes, cabe enfrentar a realidade como ela realmente se apresenta, despindo-se de arroubos e bravatas que a nada levam.
“Vamos botar os fascistas para correr” não parece uma palavra de ordem sensata, ainda que bem intencionada.
Melhor conclamar à luta com os pés no chão, largueza de visão e habilidade para alterar os pesos na balança da correlação de forças.
A parte da sociedade circunstancialmente ganha pelos fascistas e a outra parte que seguiu na mesma direção movida pela rejeição à alternativa democrática por confundi-la com maus feitos e descaminhos, certamente não serão convencidas “no grito”. Há muito que revelar, esclarecer, debater e convencer. O que exige certa dose de humildade ao compartilhar com aliados a empreitada de bem compreender o que se passa e de encontrar saídas.
Imaginar que as coisas mudam forçando a barra numa polarização que, embora lastreada em contradições sociais concretas, tem muito de artificial quando se quer resumir o protagonismo na cena política a uma queda de braço entre bolsonaristas e petistas é primarismo político lamentável.
Até alcançarmos a colina e lá fincarmos nossas bandeiras, muita água há que passar por debaixo da ponte.
Melhor fazer a conta de quantos estão no mesmo lado e que outros podem se deslocar para cá mediante que intenções e propostas.
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