Recife, 483 anos
Luciano Siqueira
Celebramos hoje os 483 anos do Recife,
rendendo todas as homenagens aos que aqui nasceram e aos que para cá vieram em
todas as épocas e que contribuíram na construção dessa complexa, contraditória
e libertária cidade.
Cidade dos rios e das pontes. Também
das igrejas, muitas delas esconderijos de conspiradores dos movimentos de rebeldia
que a cidade abrigou ao longo da sua história.
Transcrevo aqui uma mini crônica acerca
do lendário Rio Capibaribe, escrita há algum tempo, num instante de
alumbramento, como diria o poeta Bandeira.
.
Tu vens de muito longe, há muito tempo,
desde que te chamavam de Caapiuar-y-be.
Vences barreiras, abres veredas – e
chegas aqui qual amante que se aloja no leito da mulher amada: ora forte,
exuberante; ora sinuoso, como que a contorcer-se preguiçoso e carente após
tremenda peleja.
A cidade amada o acolhe sequiosa do teu
vigor e do teu afeto.
O tempo, porém, sob o vendaval da
moderna desordem, perturba a tua relação com a cidade como os desencontros da
vida ameaçam uma relação de amor.
Já não és mais aquele, que ao olhar do
poeta Cabral “Engoliu as terras, engoliu as casas,/Engoliu as cercas/E engordou
seu corpo/Engolindo as noites, engolindo os dias.”
Fostes envolvido pela sanha do lucro,
do fausto, da ambição, da desesperança, da dor, do desamor.
Agora, quando tu encontras o teu irmão
gêmeo, o Bebyrype, e se abraçam ao encontro do imenso oceano, pareces enfim
derrotado. Mas ainda conservas a energia que brota do teu nascedouro, fonte
renovável de tua força; e a cidade, essa amante cruel, como que arrependida,
parece enfim acordar da longa noite de insensatez e, envolta pelo clamor da
renovação da vida, busca reiventar-se a si mesma e te reencontrar como dois
seres que se amam retornam à pureza do primeiro encontro.
Acesse
o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no
YouTube http://abre.ai/aKUs leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário