Brasil
pode ter recessão recorde, enquanto mundo reage com urgência
Enquanto o governo do presidente Jair Bolsonaro adota medidas
tímidas, China, Europa e Estados Unidos se movimentam com mais abrangência.
Oswaldo
Bertolino, portal Vermelho
A projeção de crescimento da economia
brasileira neste ano para zero por cento, pelo Ministério da Economia, está em
linha com o que vem acontecendo em âmbito mundial. A Fundação Getúlio Vargas
(FGV) vai além e prevê que o ano termine com uma retração de 4,4%, a maior
registrada no país desde 1962, quando o Banco Central iniciou a série.
A previsão leva em conta, além dos impactos domésticos, a
redução da atividade global, especialmente nas economias chinesa, europeia e
norte-americana. Além dos paliativos recentemente anunciados pelo governo, o
Banco Central (BC) se limitou a cortar 0,50 ponto percentual da taxa de juro.
As informações são de
que a cautela tem a ver com os movimentos monetários em outros países. Há um
debate sobre a eficiência das ferramentas de política monetária no contexto do
coronavírus. No Brasil, o governo optou por mexer nas relações de trabalho, com
cortes salariais proporcionais à redução da jornada, em lugar de medidas no
âmbito monetário.
Segundo a economista Anelise Manganelli, do Dieese, a falta de
remanejamento do principal gasto público do país, o serviço mensal da dívida
pública, é um problem,a grave. “Nenhuma medida foi sequer cogitada para
renegociar parte da dívida, alongando o perfil e abrindo espaço no orçamento da
União para os gastos emergenciais de combate à pandemia e a anemia da economia
brasileira”, avaliou.
Para ela, o pacote contra
os trabalhadores parece subdimensionar o real impacto do coronavirus na já
frágil economia brasileira. “Insiste na pauta liberalizante e de contenção
fiscal, ao contrário do resto do mundo. Além disso, foca em tentar aumentar a
renda disponível das empresas, mas trata superficialmente dos trabalhadores
formais, não garantindo a estabilidade dos contratos. Ao mesmo tempo, trata de
forma generalista os informais e a população mais vulnerável”, criticou.
Propostas da Abimaq - A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq) também tem cobrado do governo medidas mais efetivas. A entidade
informa que está em contato permanente com o gabinete de crise do Ministério da
Economia para apresentar sugestões com medidas econômicas emergenciais voltadas
às pequenas e médias empresas (máquinas e equipamentos).
Três documentos foram
encaminhados ao governo com iniciativas para manter as empresas financeiramente
saudáveis e consequentemente ativas durante o período mais crítico da pandemia
de coronavírus, além de visar a manutenção do emprego.
Segundo o site Monitor
Mercantil, a Abimaq propõe a utilização dos 140 bilhões de reais que tem no
caixa do BNDES para financiar capital de giro e assim facilitar o pagamento das
principais obrigações das empresas, sendo salários, impostos, os bancos e seus
fornecedores.
Segundo a Abimaq, foi sugerido ainda ao BNDES a criação de uma
linha de capital de giro sem que sua liberação tenha que passar por banco
intermediário. Também uma flexibilização do Fundo Garantidor para Investimentos
(FGI ) para que as empresas não precisem apresentar garantias exigidas pelas
instituições financeiras que são difíceis de serem atendidas, como os prazos de
carência e amortização, taxa de juros e valor de entrada. Para as empresas que
possuem financiamentos no BNDES ou no Banco do Brasil, a associação solicitou
uma moratória de 90 a 120 dias.
Outra ação sugerida pela
entidade foi a liberação de depósito compulsório que está depositado no Banco
Central no sentido de aumentar a liquidez das pequenas e médias empresas, além
de reduzir os altos spreads cobrados nos empréstimos para capital de giro.
A entidade também
solicitou a prorrogação por pelo menos 90 dias de impostos federais (PIS,
Cofins, IPI, INSS, Imposto de Renda pessoa jurídica) e sugeriu ainda ao Governo
Federal que peça ao Congresso Nacional autorização para ampliação do déficit
público autorizado pelo orçamento.
A Abimaq informou que está enviando correspondências para todos
os governadores solicitando às Secretarias de Fazenda estaduais, a liberação de
créditos acumulados de ICMS, a flexibilização da burocracia para liberação
destes créditos e a postergação em 90 dias do recolhimento do ICMS.
Manutenção do emprego - Com relação a manutenção
do emprego, a Abimaq está em contato direto com o governo, além do Sindicato
Nacional da Indústria de Máquinas (Sindimaq) para negociar com 94 sindicatos
nos estados de São Paulo e do Paraná. Entre as medidas propostas estão
parcelamento do salário, lay off, banco de horas de 24 meses, férias coletivas,
redução da jornada de trabalho com a redução proporcional do salário e jornada
flexível.
Outra sugestão é a
postergação por 90 dias dos encargos trabalhistas que incidem sobre a folha de
pagamentos, ainda que o empregador possa colocar seus funcionários em férias
sem pagar o bônus de férias, ou seja, um terço do salário e também metade do décimo
terceiro salário.
Para estimular a demanda, segundo a Abimaq, a proposta é que o
governo reative as obras paradas desde o tempo da Lava Jato, assim como
priorizar junto ao Legislativo a aprovação no Senado da votação do marco do
saneamento e também da aceleração do Projeto de Lei que trata da PPP- Parceria
Público Privada e das concessões públicas.
A Abimaq afirmou que
acredita que a crise do coronavírus seja passageira e temporária. No entanto,
não se sabe exatamente quando termina esse cenário de instabilidade e se ele
pode piorar a situação da economia brasileira. Então se faz necessário adotar
medidas para os próximos 90 a 120 dias.
Preocupação da ONU - A preocupação com a situação da economia deve crescer após o
anúncio do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António
Guterres, que uma recessão global é “praticamente certa”. Ele disse que a atual
crise global de saúde é “diferente de qualquer outra num período de 75 anos na
história das Nações Unidas”.
Guterres se referiu ao
informe da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estima que “os
trabalhadores em todo o mundo poderão perder até mesmo US$ 3,4 trilhões de
receita até o fim deste ano”.
Ele conclamou a realização de uma “resposta global coordenada”
para ajudar os países em desenvolvimento a conterem o alastramento do vírus”.
Guterres acolheu com agrado a decisão tomada pelos líderes do G-20 de realizar
uma cúpula de emergência por meio de vídeo, na próxima semana, para discutir a
questão da pandemia. Ele conclamou os líderes a coordenarem uma resposta em uma
amplitude que deve combinar com a escala da crise.
Medidas na China - O governo da China tem
procurado saídas com medidas para apoiar empregos, num momento em que a segunda
maior economia do mundo caminha para a recessão pela primeira vez em quatro
décadas devido ao surto de coronavírus. A taxa de desemprego no país subiu para
um recorde máximo de 6,2% em fevereiro, e qualquer aumento rápido do desemprego
pode representar um grande desafio.
A China acelerará os cortes direcionados de impostos e juros
para as empresas, devolverá mais prêmios de seguro-desemprego às empresas que
pouparem empregos e subsidiará pequenas empresas para empregar graduados com
contratos de trabalho por mais de um ano, informou o governo, em comunicado.
O país acelerará a
retomada das operações em empresas e projetos importantes, especialmente em
manufatura, construção, logística e serviços públicos. Para pequenas e médias
empresas com pouca ou nenhuma demissão, o retorno máximo dos prêmios de seguro-desemprego
pode ser aumentado para 100% do valor pago no ano anterior.
A China também ajudará
os trabalhadores imigrantes a encontrar empregos e apoiará vagas flexíveis,
permitirá mais vendedores de rua e mercados, barracas e outros estabelecimentos
comerciais. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse que a China não
poupará esforços para ajudar empresas pequenas, médias e privadas a sobreviver,
à medida que a segunda maior economia do mundo é abalada pela crise do
coronavírus.
Ele disse que as políticas fiscais e monetárias que foram
implementadas devem se concentrar mais nas pequenas empresas. Xangai fornece
apoio financeiro e otimiza procedimentos de desembaraço aduaneiro para ajudar
as empresas estrangeiras e de comércio exterior a retomar o trabalho, disseram
na sexta-feira as autoridades locais.
Liu Min, vice-diretora
da Comissão Municipal de Comércio de Xangai, disse que todas as principais
empresas de capital estrangeiro e de comércio exterior de Xangai retomaram o
trabalho.
Sinais de normalização - Neste ano Xangai já assinou mais de 40 bilhões de iuanes (5,6
bilhões de dólares) em projetos e viu o estabelecimento de cinco sedes
regionais de empresas multinacionais e três centros estrangeiros de pesquisa e
desenvolvimento. O número total de sedes regionais e centros estrangeiros de
pesquisa e desenvolvimento em Xangai atingiu 725 e 464, respectivamente, disse
Liu. A cidade ofereceu apoio financeiro a empresas de comércio exterior.
Liu disse que a cidade
promoverá a assinatura de vários projetos de financiamento estrangeiro na
próxima etapa, o que deve aumentar a confiança das empresas estrangeiras.
A economia da China está
começando a mostrar alguns sinais de normalização após o grande impacto causado
pelo coronavírus, mas os riscos permanecem, afirmaram autoridades do Fundo
Monetário Internacional (FMI).
A maioria das grandes empresas chinesas reabriu e muitos
funcionários locais voltaram ao trabalho, mas as infecções podem aumentar
novamente à medida que as viagens nacionais e internacionais forem retomadas,
disseram as autoridades do FMI.
Surtos em outros países
e variações no mercado financeiro podem fazer com que consumidores e empresas
sejam cautelosos com os produtos chineses, no momento que a economia está
voltando ao trabalho, disseram.
Regras da União Europeia - Na Europa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der
Leyen, anunciou a suspensão das regras de disciplina orçamental da União
Europeia (UE), uma nova medida que permitirá aos Estados-membros gastar o que
for necessário. “É uma medida nova, isto nunca foi feito antes”, disse von der
Leyen num vídeo publicado no Twitter.
Numa mensagem em que se
dirigiu diretamente aos europeus, von der Leyen disse que “a maioria dos
sectores vão ser atingidos” e que conhece o impacto que tudo isto tem em cada
cidadão europeu.
“A paralisação da nossa
vida pública é necessária para conter o vírus mas atrasa a nossa economia. Na
semana passada eu disse que faríamos o que fosse preciso para apoiar os
europeus e a economia europeia – e hoje posso dizer que vamos conseguir fazer
isso mesmo. As ajudas de cada Estado, que desde ontem temos em vigor, à
economia são as mais flexíveis de sempre – isto vai ajudar as vossas empresas e
os vossos empregos porque os vossos governos vão agora poder ajudar os comércios
atingidos por este choque tão repentino: hotéis, restaurantes, empresas de
transportes, pequenas empresas que fechariam sem apoio”, disse.
A partir de hoje, “cada governo nacional tem autorização para
apetrechar as suas economias com quanto dinheiro achar necessário. Vamos
relaxar as regras orçamentais para permitir precisamente isso”, anunciou a
presidente da Comissão Europeia.
Pacote da Alemanha - A Alemanha já havia
anunciado a distribuição de um pacote de 40 bilhões de euros destinado aos
trabalhadores independentes e pequenos empresários que tenham a seu cargo até
dez trabalhadores. De acordo com o Spiegel
Online, 10 bilhões desse total serão doados diretamente a empresas
e micro empresas; os restantes serão disponibilizados sob a forma de
empréstimo.
O ministro das Finanças, Olaf Scholz, vai organizar este pacote como um fundo
especial federal que poderá ser emprestado de forma independente e a baixo
custo para quem contrair os empréstimos. O chamado “Fundo de Solidariedade”
está sendo elaborado por técnicos do Ministério Federal das Finanças e do
Ministério Federal da Economia.
O assunto ainda não
chegou oficialmente ao Banco Central Europeu (BCE), mas a sua presidenta,
Christine Lagarde, escreveu no Twitter que “tempos extraordinários exigem
medidas extraordinárias”. E garantiu que “não existem limites ao compromisso
com o euro” e que o BCE está determinado “a usar todo o potencial dos seus
instrumentos, dentro do seu mandato”.
Na semana passada
Lagarde afirmou que não compete ao BCE opinar sobre a política monetária dos
países da zona do euro, em resposta a uma pergunta sobre a subida dos juros em
Itália. Suas palavras foram alvos de duras críticas e interpretadas pelos
mercados financeiros como um sinal de que o BCE não irá intervir caso as taxas
de alguns países da zona euro disparem. E, claro, os juros subiram ainda mais.
Ação do Fed nos Estados Unidos - Nos Estados Unidos, o
Federal Reserve (fed), o banco central do país, abriu as torneiras na
quinta-feira (19) para que bancos centrais em nove países tenham acesso a
dólares na expectativa de impedir que a epidemia de coronavírus cause uma crise
econômica global, prevendo até 60 bilhões de dólares para o Brasil.
Austrália, Coreia do
Sul, México, Singapura, Suécia, Dinamarca, Noruega e Nova Zelândia também estão
na lista. Essa é a mais recente de uma série de medidas de emergência que o Fed
vem adotando desde domingo para tentar limitar o prejuízo econômico da crise de
saúde.
O Fed reduziu no domingo
sua taxa básica de juros em um ponto percentual, para quase zero. “O surto de
coronavírus prejudicou comunidades e interrompeu a atividade econômica em
muitos países, incluindo os Estados Unidos”, afirmou o Fed em comunicado,
acrescentando que as condições financeiras globais também foram
“significativamente afetadas”.
O Fed observou que os
efeitos do coronavírus “pesam” na atividade econômica dos Estados Unidos no
curto prazo e representam riscos para as perspectivas econômicas. “O Comitê (de
formulação de políticas do Fed) espera manter essa faixa de metas até ter
certeza de que a economia resistiu aos eventos recentes e está no caminho de
alcançar suas metas máximas de emprego e estabilidade de preços”, afirmou o
Fed.
Ação do Banco Mundial - O Banco Mundial também
anunciou um aumento de 14 bilhões de dólares em financiamento acelerado para
ajudar empresas e países. O pacote “fortalecerá os sistemas nacionais de
preparação para a saúde pública”, inclusive para contenção, diagnóstico e
tratamento de doenças e apoiará o setor privado, informou o Banco Mundial em comunicado.
O financiamento
adicional de 2 bilhões de dólares veio da Corporação Internacional de Finanças
(CIF), o credor do Banco Mundial para o setor privado, o que aumentou sua
disponibilidade de financiamento relacionado à Covid-19 para 8 bilhões de dólares.
No início deste mês, o Banco Mundial informou que que está disponibilizando um
pacote inicial de até 12 bilhões de dólares.
Estatização na Europa - Na França, Itália e
Espanha, os governos não descartam estatizar em presas para evitar que elas
sejam vítimas fatais da pandemia do coronavírus. O ministro de Finanças
francês, Bruno Le Maire, afirmou que o governo está preparado para usar todos
os meios a fim de apoiar grandes empresas que sofrem com turbulências no
mercado financeiro, incluindo a nacionalização se necessário.
“Não hesitarei em usar
todos os meios disponíveis para proteger grandes empresas francesas”, disse ele
em uma teleconferência com jornalistas, de acordo com a Reuters. “Isso pode ser
feito por recapitalização, por participação, posso até usar o termo
nacionalização, se necessário”, acrescentou.
Já o governo italiano
anunciou que prevê a nacionalização da companhia aérea Alitalia, que enfrenta
grandes dificuldades financeiras há vários anos, de acordo com a France Presse.
O conselho de ministros “prevê a constituição de uma nova empresa totalmente
controlada pelo ministério da Economia e das Finanças, ou controlada por uma
empresa com participação pública majoritária, inclusive indireta”, afirma um
comunicado do governo.
Medida drástica - A Espanha adotou uma
medida drástica para tentar barrar a propagação do novo coronavírus e garantir
que a população consiga receber atendimento médico adequado: vai estatizar
todos os hospitais enquanto a epidemia durar. No último domingo, 15, o país
decretou estado de emergência em razão da epidemia da doença.
“Durante o período de
epidemia de Covid-19, os cuidados com a saúde da população não podem ser
atendidos adequadamente apenas com os recursos materiais e humanos em cada
comunidade autônoma. Portanto, eles terão à disposição centros e
estabelecimentos de saúde privados, seus funcionários, e as sociedades focadas
em acidentes de trabalho”, dizem as autoridades.
A Espanha também afirmou
que profissionais da saúde com menos de 70 anos de idade e que estejam
aposentados devem se manter a postos para voltar ao trabalho, se necessário. Em
48 horas, todas as empresas particulares que atuem no setor da saúde devem se
apresentar ao governo espanhol, assim como as empresas que tenham a capacidade
de produzir produtos e equipamentos utilizados na saúde. (Com informações da mídia europeia e norte-americana, e agências
de notícias)
Se
inscreva. Fique sabendo. Entenda. Opine http://abre.ai/aQ3f
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