22 abril 2020

Letalidade


Vírus pode atacar também o sistema nervoso central
O novo coronavírus pode atacar também o sistema nervoso central, causando problemas neurológicos graves a médio e longo prazo, como Alzheimer. O alerta foi feito em um artigo publicado ontem na Trends in Neuroscience (revista do grupo Cell) e assinado por cientistas brasileiros, incluindo Jorge Moll, da UFRJ e presidente do conselho do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), um dos autores do artigo.
Em um levantamento feito com base em diversos estudos, os cientistas mostram que as doenças cerebrovasculares estão entre as comorbidades de pacientes que testaram positivo para a covid-19 e desenvolveram complicações respiratórias graves. Um dos estudos, cita o artigo, relata casos de isquemia em 20% de 113 pacientes mortos. Outro estudo avaliou 214 pacientes na China e concluiu que 36% tiveram alguma manifestação neurológica. “Alterações, incluindo encefalite, foram descritas”, confirma a diretora-presidente do Idor, Fernanda Tovar-Moll, que também assina o artigo. O estudo lembra ainda que a conexão entre infecções virais e patologias do sistema nervoso central não é exatamente uma novidade e as observações feitas dos casos de covid-19 são semelhantes às notadas em casos de infecção por outros coronavírus, como SARS e MERS. Pesquisador da Queens University, no Canadá, o brasileiro Douglas Munoz também assina o artigo. Ele lembra que, dada a dimensão global da pandemia atual, é necessário considerar desde já os possíveis impactos a longo prazo da covid-19 no cérebro. “Ressaltamos a importância de acompanhar os pacientes nos próximos anos, pois a infecção por SARS-COV-2 pode favorecer ou aumentar a suscetibilidade a desenvolver doenças como Alzheimer e outros distúrbios neurodegenerativos ou neurológicos”, concluiu Fernanda de Felice, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, também autora do artigo.
Explicação. A invasão pelos coronavírus já foi documentada em estudos com modelos animais e parece ocorrer por meio de nervos como o trigêmeo e o nervo olfatório, como relata o professor Octávio Marques Pontes Neto, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da MedicinaUSP em Ribeirão Preto. “Estudos mostram que esse tipo de vírus pode invadir e migrar pelo neurônio e pode induzir a confusão no sistema imunológico.” “Já há estudos que mostram que nos casos mais graves há até 5% de AVCs e outros tipos de enfartes”, argumenta Pontes Neto. “A anosmia, que é a perda do cheiro e do gosto, é um dos sintomas mais comuns e decorre da infecção do nervo olfatório”, ressaltou. De acordo com o pesquisador, já há documentação científica também da ocorrência da síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF), um distúrbio autoimune que agride as paredes vasculares venosas e arteriais. (Fonte: O Estado de São Paulo)

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