11 abril 2020

Petrobras na mira


A destruição programada da Petrobras
A PETROBRAS cometeu suicídio ao se concentrar na extração de cru e abandonar o refino e a distribuição, mas não foi por erro, foi parte do projeto de destruição do projeto PETROBRAS
André Motta Araújo, Jornal GGN

A criação da PETROBRAS, em 1953, foi um ato de confronto ao consenso conservador das chamadas “classes produtoras” do Brasil dos anos 50, lideradas por Eugenio Gudin, o avô dos neoliberais de hoje. Gudin achava que o Brasil NÃO DEVERIA TER INDÚSTRIA, coisa para a Bélgica, dizia ele. O Brasil deveria se contentar em ser exportador de café.
Gudin e a Associação Comercial do Rio de Janeiro representavam o comércio importador do Rio, a indústria de São Paulo era um estorvo, atrapalhava os negócios de importação da Praça Mauá, uma ironia, Mauá era a favor da indústria no Brasil. A alma de Gudin se plasmou na Escola de Economia da PUC do Rio e na comunidade dos economistas do Rio de Janeiro, com raras exceções ANTI INDÚSTRIA no Brasil. Há uma marcação sociológica profunda nessa antinomia entre Rio e São Paulo, que se mantém até hoje.
O grande debate se travou entre Roberto Simonsen, intelectual e industrial de São Paulo, e Gudin. Começou no final dos anos 40 e se prolongou pelo início dos anos 50. Simonsen defendia a industrialização do Brasil contra as ideias coloniais de Gudin, que depois foi por breve tempo Ministro da Fazenda.
O DNA anti-PETROBRAS atravessou duas gerações, os adoradores dos postos da Shell, da antiga Esso, da Texaco, da Gulf, gostavam da gasolina importada do México através da Mexican Eagle, subsidiária da Shell, tudo vinha de fora, da gasolina ao óleo lubrificante e, é óbvio, os automóveis e caminhões, entre esses os da International Harvester, a marca mais reputada no Brasil de estradas de terra, vinham CKD e eram montados no Brás em São Paulo, meu pai era um dos  que comercializavam.
Para essa turma do Gudin a fundação da PETROBRAS foi uma derrota inaceitável, um pecado a se acrescentar aos demais na biografia de Vargas, nunca esqueceram e não descansarão enquanto não liquidarem a PETROBRAS, a empresa, seu ideal e sua memória. Agora chegou a oportunidade de destruírem esse legado nacionalista.
UMA ESTRATÉGIA ENLOUQUECIDA
Se analisarmos as estratégias das 20 maiores petroleiras do mundo, as quatro primeiras são estatais, depois vem a Shell, a BP, a Chevron, das 20 maiores 13 são estatais, veremos que a TOTALIDADE, com exceção da PETROBRAS, concentra seus investimentos no “downstream”, nas atividades pró-extração de cru, no transporte, refino, distribuição e petroquímica. A lógica é óbvia: na extração do cru a empresa fica sujeita à extrema volatilidade do mercado de commodities, o petróleo pode variar de $ 100 dólares a $20 dólares em curto espaço de tempo, sendo que os custos de extração são próximos de fixos. Já no “downstream” as margens são mais estáveis e podem ser altas. A SAUDI ARAMCO está investindo para dobrar sua capacidade de refino, que será a maior do mundo, 6 milhões de barris dia, a PEMEX está construindo a maior refinaria da América Latina, em Tabasco, no México. A PETROBRAS tinha a maior rede de distribuição e o maior parque de refino da América Latina, ESTÁ SE DESFAZENDO DOS DOIS, a rede de distribuição já foi vendida de forma disfarçada SEM COBRAR PRÊMIO DE CONTROLE e cedendo o uso das marcas LUBRAX e PETROBRAS, de graça, sem cobrar nada, o controle da BR DIISTRIBUIDORA, foi perdido de forma subreptícia  em operações de vendas de lotes na Bolsa de São Paulo, até a PETROBRAS perder o controle, quem comprou? Não se sabe oficialmente, mas foi o melhor negócio do século, comprando lotes a preço de varejo o novo controlador ficou com a BR sem pagar o prêmio universal de controle.
A VENDA DAS REFINARIAS
O grupo que se apossou do controle da PETROBRAS agora quer vender as refinarias, que estão subutilizadas de propósito, a PETROBRAS de hoje prefere importar combustíveis já refinados a preços de países ricos, enquanto exporta óleo cru do pré-sal, a preço de países extrativistas, quando poderia refinar no Brasil gerando riqueza, impostos e empregos no País. Com a queda dos preços do petróleo cru a 20 dólares, a exploração do pré-sal PARA EXPORTAÇÃO fica inviável, o custo de extração é de 45 dólares.
A PETROBRAS cometeu suicídio ao se concentrar na extração de cru e abandonar o refino e a distribuição, mas não foi por erro, foi parte do projeto de destruição do projeto PETROBRAS, o sonho de Gudin está prestes a se realizar, a última venda será do prédio sede da PETROBRAS, que tal também demoli-lo para se esquecer que um dia a PETROBRAS existiu?
Mas o maior ativo da PETROBRAS que será dado na bandeja é o 2º maior mercado mundial de gasolina e diesel que é dominado pela PETROBRAS. Mercado é VALOR, o domínio de um mercado é um valor por si só tanto que, quando uma empresa é vendida, parte substancial do valor da venda, senão o maior, é a fatia do mercado que a transação transfere, a PETROBRAS é dona do mercado brasileiro que o grupo liquidante pretende entregar de graça para quem se apresentar bem vestido.
 A ESCOLHA DOS LÍDERES DO PROJETO GUDIN
Os escolhidos para liquidar com a PETROBRAS foram selecionados a dedo, Pedro Parente começou a obra, depois um grupo que veio da Universidade de Chicago, escola onde EMPRESA ESTATAL é palavrão impronunciável. O grupo tem a tarefa de demolição como um projeto de vida, aquela que foi um das 20 maiores petroleiras do mundo será então um capítulo de livro de história, será lembrada como a maior obra do atual governo, tarefa nada simples, mas realizada com obstinação.
Nenhum deles entende nada de petróleo, ao contrário dos CEOs e equipes que dirigem as outras 19 maiores petroleiras do mundo, todos veteranos do setor, alguns com mais de 30 anos na área antes de chegar ao topo. O petróleo é um setor ALTAMENTE ESPECIALIZADO, que exige profundos conhecimentos técnicos. Já os que foram escolhidos para liquidar com a PETROBRAS nunca entenderam nada de petróleo, são homens de finanças e de bolsa, não de indústria e de produção.
Essa prática se iniciou no governo FHC, que tinha o mesmo projeto mas sem condições políticas de leva-lo adiante, entregou a PETROBRAS a completos estranhos ao setor, como Henri Reichstul e Francisco Gros, ambos de bancos de investimentos, ai já começou a trajetória de liquidação, com a submissão da PETROBRAS à jurisdição americana pela venda de ações nos EUA, sem qualquer vantagem para o Brasil, uma espécie de prévia do desmonte da empresa.
A trajetória da PETROBRAS definirá o futuro do Brasil, como potência ou como colônia, como um projeto de Nação ou de simples plataforma de negócios.

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