Luciano
Siqueira: 'Presidente subestima a pandemia'
Em entrevista à Folha de Pernambuco, vice-prefeito do Recife enfatiza
papel de liderança do prefeito do Recife, Geraldo Julio
Folha de
Pernambuco, por Camila Souza (28.3.20)
Diante da
crise em que o Brasil enfrenta por causa da pandemia do coronavírus, o
vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), fez uma análise atual da
conjuntura do País. Para ele, pode haver um desgaste político caso ocorra a
prorrogação do pleito junto com os mandatos, como está acontecendo com o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Além disso, Luciano reafirma a liderança
do prefeito Geraldo Julio (PSB) e não deixa de tecer críticas à postura do
governo federal neste período. Segundo o comunista, o mais preocupante é o
presidente estimular o descumprimento do isolamento social e subestimar a
gravidade da pandemia em nome do funcionamento da economia.
Como o senhor avalia a crise da pandemia do coronavírus e a atuação do governo Bolsonaro?
Como o senhor avalia a crise da pandemia do coronavírus e a atuação do governo Bolsonaro?
A pandemia
é uma situação excepcional no mundo inteiro sob todos os aspectos. Desde a
inexperiência de lidar com esse vírus até a incerteza sobre as consequências na
economia mundial e, naturalmente, sob a vida das pessoas como reconhece a
Organização Mundial da Saúde (OMS). No caso do Brasil, no ponto de vista
econômico e social, nós somos surpreendidos com muitas fragilidades na economia.
O governo federal não conseguiu ocupar o posto de coordenador geral, o que tem
gerado cobrança dos governadores como Flávio Dino (PCdoB-MA) e João Doria
(PSDB-SP) e falado insistentemente que a coordenação nacional cabe ao governo
federal que é impraticável e, às vezes, omisso. O mais preocupante é o
presidente estimular o descumprimento do isolamento social e subestimar a
gravidade da pandemia em nome do funcionamento da economia, insistindo que o
melhor modo de reagir é o povo ir para rua, trabalhar e consumir.
Já existe uma discussão sobre futuro incerto das eleições de 2020. Como você vê a movimentação?
Já existe uma discussão sobre futuro incerto das eleições de 2020. Como você vê a movimentação?
É obvio
que as eleições já estão sendo impactadas pela pandemia. Eu me refiro não só
pelo fato de que se ela se realizar na data prevista será inevitável a pandemia
e suas consequências compareça ao debate eleitoral. Porém, desde já, existem
obrigações importantíssimas. Faltam poucos dias para encerrar o prazo em que os
cidadãos que desejem se candidatar nas eleições e se filiarem a um partido ou
que queiram mudar de legenda partidária. Natural que, nessa fase, as pessoas
estivessem se encontrando, as direções partidárias estariam realizando
encontros e reuniões e esse ambiente atrapalhou muito. Articulações das
pessoas, consultas, tomada de providências para realização futura da campanha
estão muito prejudicadas nesse período. Se as eleições se firmam nesse fato ou
não, eu sinceramente não tenho opinião formada. Porém, tenho impressão que vai
depender do que acontecerá nos próximos 10, 12 dias que se espera a
convergência de dois fatores importantes para saúde da população. A pandemia
mexeu no esporte, nas atividades econômicas, congressos científicos. Então,
pode ser que isso aconteça. Quando a descendência do vírus diminuir haverá
muita proviência a tomar seja administrativa, econômica ou cientifica e esses
fatores todos poderão ou não justificar o futuro das eleições.
Você acha que a eleição devia ser prorrogada com os mandatos?
Você acha que a eleição devia ser prorrogada com os mandatos?
Não
necessariamente. Não podem acontecer em outubro, mas podem acontecer em
dezembro, não sei. É difícil dizer. Agora, do ponto de visto político, existe o
risco de governantes se desgastarem, como está acontecendo com o presidente
Bolsonaro. No entanto, muitos governadores como Paulo Câmara (PSB), e muitos
prefeitos tem se fortalecido como líderes, mas não apenas por questão
administrativa, mas política, como o prefeito Geraldo Júlio. Desde fevereiro
quando o prefeito criou o comitê de crise, que estamos trabalhando sob o
comando de Geraldo e do secretário de Saúde, Jailson Correia. A prefeitura tem
tomado passos em sintonia com a questão técnica, cientifica e de senso comum. O
prefeito mobilizou universidades, igrejas, a mídia, as diversas instituições e
segmentos empresariais. Tem sido uma mobilização exemplar no qual temos assistido
um esforço mútuo que despertou na população. Isso nos dá tranquilidade e
segurança.
Como avalia o posicionamento do PCdoB e quais os próximos passos do partido no cenário atual?
Como avalia o posicionamento do PCdoB e quais os próximos passos do partido no cenário atual?
Como a
nossa presidente nacional e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, tem
dito, o partido não tem ficado apenas na crítica sobre a conduta equivocada do
presidente, mas temos pautado a nossa ação neste momento em dois setores: a
primeira é solidariedade ao povo no sentido amplo que vai desde o empenho em
ajudar a esclarecer sobre o melhor comportamento a adotar diante da pandemia,
mas também através dos nosso parlamentares, dos nossos governantes aliados a
nosso partido por meio de agentes sindicais, estudantis, identidades populares.
E o segundo vetor é insistir na absoluta necessidade de uma ampla, a mais ampla
possível convergência de sentimentos e ideias e vontades para que nós tenhamos
no transcorrer da pandemia e pós-pandemia uma unidade ampla pela salvação
nacional em defesa da democracia e das necessidades essenciais do povo. Além
disso, da retomada pelo desenvolvimento econômico para que o panorama social do
povo melhore. Não é hora de perguntar “em quem voltou”, mas agora no
transcorrer da pandemia e no pós-pandemia é preciso juntar amplamente para tirar
o país da crise e reergue-lo porque a situação pós-pandemia será terrível. Essa
é a nossa visão.
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