Louca, a Ciência. Cega, a Fé
Alberto Salazar*
Em tempos de pandemia, lembrei-me de
Teodorico Raposo, personagem eciano no livro A Relíquia, quando revela que “houve
um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na
terra com o pé forte, ou palidamente elevando os olhos aos céus - cria, através
da universal ilusão, ciências e religião”. Heroísmo descarado que não tem
faltado às autoridades, aos especialistas, leigos, não leigos, e toda sorte de “opineiros”
de plantão.
Nunca a ciência foi tão aventada e
avocada como tem sido por todo tipo de pessoas e entidades. São leigos, não
leigos, administradores públicos, autoridades, sindicatos, conselhos,
organizações não governamentais, órgãos públicos, governos e até organizações
mundiais. Ciências posta à massa através de decretos, portarias, opiniões, lives,
e difundidos pelas rádios, jornais, televisões, Facebook, WhatsApp, Instagram...
Os leigos, talvez os mais perdoáveis,
pois como as crianças, que pouco conhecem, externam o que sentem. Os não leigos,
esses se tornaram verdadeiros advogados, evocando certezas inabaláveis,
baseadas em dados mais empíricos do que científicos. Já os administradores
públicos, esses que deveriam, dado às equipes que possuem, tomarem decisões acertadas,
mas, o que observamos é um verdadeiro bate-cabeça e uma série de medidas ilógicas,
irracionais e sem propósito. O exemplo do fechamento de praias e parques,
rodízio de veículos, sobrecarregando o transporte público, e só agora se aventa
(ainda bem) o escalonamento de início e fim de setores das atividades
econômicas. Uso de máscara obrigatório nas ruas e transportes públicos, ao
tempo que proíbe atividades econômicas quando o óbvio mostra que o
distanciamento entre pessoas é bem maior em qualquer ambiente de trabalho do que
qualquer transporte público. Há cidades a quase três meses de quarentena, sem
ter tido um único caso. É lógico que os aglomerados urbanos, regiões
metropolitanas, cidades, distritos, terão curvas e picos distintos. A análise
de comportamento das curvas e picos de outros países, comparativamente localidade
a localidade (RM, cidades, vilas, distritos) deveria ter balizado o nosso
planejamento, mas ainda está em tempo. Vamos nos acertar pela experiência dos
outros. Faltou e falta coordenação central para os entes federados, como faltou
também Estados para com seus municípios.
O achatamento da curva de contaminação
seria para que as autoridades, federais, estaduais e municipais, pudessem se
planejar para o atendimento aos contaminados, quando é sabido que vários
municípios não adotaram ou não tiveram condições de adotar qualquer medida para
o combate ao covid-19.
E assim são posicionamentos de
sindicatos, conselhos, ONGs, órgãos públicos que ao sabor de interesses que aos
olhos das pessoas não encontram razão.
E por fim a tão temida, a toda
poderosa OMS, outra a bater cabeça e a provocar abalroadas mundo afora. Ao fim
de tudo e após a vacina, saberemos se a OMS veio mais atrapalhar do que ajudar.
Dito o acima, lembre-me de outro
português, o Pessoa, no poema Natal: “Cega, a Ciência a inútil gleba lavra. Louca,
a Fé vive o sonho do seu culto.”
Parodiando, direi: Louca, a Ciência vive o sonho do seu culto. Ainda que Cega, a Fé a útil (não inútil) gleba lavra.
Fique sabendo https://bit.ly/3c6HtLo Leia mais https://bit.ly/2Jl5xwF
* Alberto Salazar
é Engenheiro civil, membro do IAHGP
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