Decisão da Justiça sobre Flávio Bolsonaro
merece uma investigação
Nada acontece por acaso nesse inquérito sobre anos
de apropriação de salários no gabinete do filho do presidente
Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo
A mais recente decisão da
Justiça sobre Flávio Bolsonaro,
favorecendo-o contra a investigação que mais abala seu pai, merece ela mesma
uma investigação. Nada acontece por acaso nesse inquérito sobre anos e anos de
apropriação de salários no gabinete de Flávio quando deputado estadual.
Em
torno desse tema, emergem interações com milícias, exóticos negócios
imobiliários e outros indícios. Todos do tipo que, nas
ocorrências de combinação entre submundo e política, em geral são causa de
ameaças, chantagens e subornos.
Os
desembargadores Mônica Oliveira e Paulo Rangel têm
comprovado conhecimento do acórdão do Supremo contra o qual
votaram para transferir o inquérito, do juiz de primeira instância ao Órgão
Especial do Tribunal de Justiça-RJ. Como desejado por Flávio. E com possível
anulação de tudo até agora apurado por decisões do juiz Flávio Itabaiana, como
movimentações financeiras anormais e a reveladora prisão de Fabrício Queiroz.
Em tentativa anterior da defesa de Flávio, Mônica Oliveira negou
a transferência do caso. Como fixado pelo Supremo para o investigado que deixou
a função privilegiada com instância especial. Hoje senador, Flávio não pode ter
os privilégios dos deputados estaduais. Paulo Rangel deixou em livro seu apoio
à norma contra a qual votou agora. Contradições tão acintosas, em oposição
também à relatora Suimei Cavalieri (Flávio foi favorecido por dois votos a um),
precisam de mais do que recurso ao Supremo para repor o respeito à norma, lá
mesmo decidida e já aplicada.
Há
mais do que a razão óbvia para estranheza e suspeição. A reviravolta expõe a
Justiça ao mesmo comprometimento moral, e quem sabe legal, a que militares da
reserva e da ativa estão expondo o Exército, como participantes diretos ou
indiretos nos danos ao país causados pelo quarteto Bolsonaro e seus
contribuintes. Os conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público, no
entanto, notabilizaram-se, até agora, por sua tolerância com ilegalidades nas
respectivas áreas, muitas delas gravíssimas como violação e nos efeitos. Resta
contar, sem exagero, com o reencontro iniciado entre o Supremo e sua dívida com
o país que tanto lhe dá.
Por
sua conta, procuradores da República dão ao procurador-geral, Augusto Aras, um
sinal da justa indignação que grassa entre eles: sua maioria sente, e repele, o
incipiente reaparecimento de um Geraldo Brindeiro, o procurador-geral de
Fernando Henrique batizado de engavetador-geral, símbolo de indignidade na
Procuradoria e no governo de então.
Os
procuradores elegem agora para o Conselho Superior do Ministério Público
Federal o colega Mario Bonsaglia, o mais votado pela classe e preterido por
Bolsonaro para substituir o dúplice Rodrigo Janot. Como reforço da mensagem,
Nicolao Dino, já conselheiro, foi reeleito. Foi outro dos mais votados que
Bolsonaro preteriu pelo sem voto Augusto Aras.
O primeiro teste pós-sinal já bate na porta de Aras, o
relutante. Não há dúvida de que Ricardo Salles, ministro contra a preservação
ambiental, já fez mais do que o necessário para responder por vários crimes de
responsabilidade. Providência pedida à Procuradoria-Geral da República por nove
ex-ministros do Meio Ambiente.
Ricardo
Salles, invenção política de Geraldo Alckmin, é condenado por improbidade
administrativa. Credencial que foi o mais provável motivo, à falta de qualquer
outro, para ser o escolhido de Bolsonaro com a missão de destruir reservas
indígenas, propagar o garimpo ilegal e os recordistas desmatamentos e incêndios
amazônicos. Quase ignorado pela imprensa, abaixo de Bolsonaro é o maior
causador de danos ao Brasil nas relações econômicas, diplomáticas e culturais
do Brasil com o exterior.
Mas
o próprio Bolsonaro iniciou nova fase: entrou em
confinamento verbal. Desde a prisão de Queiroz, o que é uma prova
irrefutável, e mesmo uma forma confessional, do perigo que agora lhe vem dessa
longa ligação pessoal e funcional. Com novo dispositivo e novas figuras para
remendar sua imagem, borrada por
Wassef, Queiroz e o fugitivo Weintraub, Bolsonaro seguiu a
recomendação de uma visita bem popularesca ao Nordeste. E foi celebrar, até com
variadas mímicas de entusiasmo, um feito para a vida nordestina. A irrigação
com águas do São Francisco. Obra de Lula e Dilma.
Governo Bolsonaro tem
crescentes fragilidades https://bit.ly/2MwcqOP
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