Desmentido pelos fatos, Bolsonaro tenta mudar foco
do debate da pandemia
Presidente
lança novas teorias para substituir suas profecias e apostas que perderam a
validade
Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo
Há nove dias, Jair Bolsonaro
tomou um helicóptero e percorreu um trajeto que levaria 50
minutos pela estrada. Desembarcou em Águas Lindas de Goiás, sorriu e inaugurou
um hospital de campanha erguido com verba federal. “A gente torce para que
pouca gente venha para cá, porque é sinal de que não precisa de atendimento”,
discursou.
O
governo desembolsou R$ 10
milhões na unidade, mas o presidente decidiu sabotar o projeto. Na
última semana, ele incitou seus
apoiadores a praticar um crime e invadir hospitais pelo país “para
mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou
não”.
Depois
de menosprezar o coronavírus, insistir num exótico “isolamento vertical”,
forçar a barra para distribuir cloroquina e maquiar estatísticas, Bolsonaro
passou a insinuar que os governadores inflam o número de mortos para
desviar o dinheiro público gasto na pandemia.
Há uma série de investigações sobre essas despesas, mas o
presidente não está interessado nelas. A intenção é lançar novas teorias para
substituir aquelas que perderam validade ou foram desmentidas pelos fatos.
Bolsonaro muda o
foco do debate para disfarçar sua negligência. Trata-se de uma
variação da estratégia de “mover a trave” —metáfora que descreve a alteração
contínua das regras e critérios de uma disputa para desqualificar o avanço de
um opositor.
O
presidente previu menos de 800 mortes na pandemia. Quando os números
dispararam, ele chegou a reconhecer o óbvio: “Está morrendo gente? Está”.
Depois, recuou e passou a fazer
campanha para sufocar os dados oficiais sobre as vítimas.
Na
economia, Bolsonaro trabalhou para minar medidas de isolamento e alardeou um
risco de desabastecimento que não se concretizou. Mudou a tática e alertou para
uma onda de saques que não ocorreu.
Na
última quinta (11), o presidente sugeriu que a pandemia é só o pano de fundo de
uma briga pelo poder. “Talvez os caras estejam aproveitando as pessoas que
falecem para ter algum ganho político”, disse. Pois é.
Não é de agora que o presidente cava o próprio isolamento político https://bit.ly/2BS1tVF
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