Manifesto 'Juntos pela Democracia' é passo para virarmos o
jogo
A reação começou forte e a virada se aproxima; torcida brasileira acordou de vez
Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo
A reação começou forte e a virada se aproxima; torcida brasileira acordou de vez
Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo
O gol estava na primeira página desta Folha no sábado (30) com remissão para a página 5, embora não fosse a de esportes, naturalmente meio escondida nestes tempos de pandemia.
Graças à dupla Carolina
Kotscho e Antonio Prata como representante de um time que resolveu mobilizar a
massa.
Que golaço! Mais de 150
mil assinaturas no manifesto “Juntos pela Democracia”, capaz de reunir, como se
fossem os tempos das “Diretas Já”, o tricolor Raí e o alvinegro Casagrande, sob
a benção do discreto, e sempre certeiro, Doutor Tostão.
Caetano Veloso e Lobão.
Don Odilo Scherer e Frei Betto.José Carlos Dias e Miguel Reale Jr. FHC e
Guilherme Boulos. Marcelo Freixo e Sarney Filho. Flávio Dino e Cristovam
Buarque.
O chamado arco da
sociedade civil, enfim, de novo reunido, com todas as suas diferenças, contra o
fascismo.
Carolina Kotscho,
brilhante roteirista, e Antonio Prata, reluzente cronista, ficarão bravos pelo
destaque da citação, porque, de fato, representam uma criação coletiva.
Acontece que ambos são a prova provada de que quem sai aos seus não degenera,
filhos de casais com contribuição inestimável ao jornalismo e a cultura
nacionais: Ricardo e Mara Kotscho e Marta Góes e Mário Prata.
É comum você ouvir de
comentaristas de futebol que o gol saiu na hora certa, como se houvesse uma
hora errada para fazer gols. O gozado é que há.
Para quem sofre, claro, é
sempre a hora errada, mas esse gol veio na hora exata em que os 11 do Supremo
Tribunal Federal andavam precisando sentir o pulso da sociedade e em que o
Congresso Nacional tinha mesmo de receber uma injeção de coragem e cidadania.
Na marcha da resistência
de entidades como a Associação Brasileira de Imprensa, a Comissão Arns, as
centrais sindicais, o Direitos Já, o Instituto Vladimir Herzog, a Ordem dos
Advogados do Brasil, um grupo de jovens, com outros atores nem tanto, brota de
repente e, ao perceber a bola quicando na área, faz o gol necessário para
derrotar a letargia e ressoar mesmo em dias de quarentena.
Estão lá entre os
signatários o corajoso Felipe Neto, além de influenciadores como Fábio Porchat,
Gregório Duvivier, Luciano Huck e Marcelo Tas. E Drauzio Varella, de sete
instrumentos.
O time dos escritores é de
babar: Ignacio Loyola Brandão, Luis Fernando Verissimo, Milton Hatoum, Raduan
Nassar e Paulo Coelho, entre outros.
E as mulheres?
Poderia reunir todas numa
só: Fernanda Montenegro.
Mas tem também a sua
filha, Fernanda Torres. E tem Patrícia Pillar. E Adriana Calcanhoto, Beth
Mendes, Camila Pitanga, Eliane Brum, Helena Ranaldi, Jandira Feghali, Laura
Carvalho, Letícia Sabatella, Lilia Schwarcz, Luiza Erundina, Maria Adelaide
Amaral, Marieta Severo, Monja Coen, Vera Zimmermann, Zezé Motta, centenas,
melhor dizendo, milhares.
Entre os filósofos você
escolhe: Vladimir Safatle ou Luiz Felipe Pondé? Renato Janine Ribeiro ou
Leandro Karnal?
Entre economistas não é
diferente: Eduardo Moreira ou Armínio Fraga? Cadê os empresários? Ora, também
estão: Paulo Francini, como sempre, e representantes tanto dos Diniz como dos
Klabin, além de Guilherme Leal.
“Vamos virar o jogo” foi o
lema da campanha que elegeu o imortal jornalista Audálio Dantas deputado
federal em 1978, quando a ditadura começava a ser derrotada.
Faz dois anos que ele
morreu. Seu espírito e exemplo sobrevivem.
Juca Kfouri é jornalista, autor
de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.
[Ilustração: Comício pelas Diretas-Já na Praça da Sé, em São Paulo]
Esteja de olho https://bit.ly/3c6HtLo
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