Como
reconstruir a economia no pós-Covid-19?
Vários países analisam programas de
“reconstrução econômica” para substituir as medidas emergenciais de renda e
crédito por algo mais sustentável financeiramente
Nelson Barbosa, portal Vermelho www.vermelho.org.br
Parece que chegamos no “final do começo” da crise da Covid-19. A
maioria dos países já sofreu a primeira onda de contágio da pandemia, reforçou
sua rede de saúde, adotou medidas emergenciais de renda e crédito para os mais
atingidos pelo choque econômico e agora se prepara para sair do isolamento
social.
Sair do isolamento social não
significa que o problema está resolvido, pois tudo indica que haverá segunda
onda de contágio da doença – e a perda de renda devido à parada súbita da
economia não será reposta rapidamente. Houve e ainda haverá aumento de
endividamento do setor público e da maior parte do setor privado com o sistema
financeiro (ou seja, com as pessoas mais ricas).
A redução da taxa básica de
juro real para território negativo (agora realidade também no Brasil) ajudará
na administração do endividamento, pois juro negativo significa perdão gradual
do valor real da dívida, mas taxa de juro sozinha não faz milagre. Ainda há
grande incerteza sobre o ritmo de recuperação pós-Covid-19 e vários países analisam
programas de “reconstrução econômica” para substituir as medidas emergenciais
de renda e crédito por algo mais sustentável financeiramente.
E como momentos de crise são também oportunidades para
transformação econômica e produtiva, alguns países estão avaliando amplos
programas de investimento em desenvolvimento sustentável, isto é,
desenvolvimento com inclusão social via emprego e preservação ambiental via
mudança da matriz energética e padrão de consumo.
Como usual, a China parece
largar na frente na reconstrução econômica pós-pandemia, uma vez que já tinha
estratégia de transformação econômica antes da Covid-19. A novidade desta crise
é que as principais economias ocidentais também começaram a se mover em direção
a um papel mais ativo do Estado no desenvolvimento econômico, com incentivos ao
investimento em infraestrutura e inovação “verdes”.
Na Europa de Merkel e Macron,
Alemanha e França propuseram um programa de 500 bilhões de euros baseado em
quatro pilares: reforço do sistema de saúde, recuperação mais rápida de emprego
e renda, transição para economia digital e sustentável, e maior “autonomia
industrial”.
A iniciativa franco-alemã ainda precisa de aprovação dos demais
membros da União Europeia. Mas, enquanto isto não acontece, a Alemanha largou
na frente com programa próprio de 130 bilhões de euros em transferência de
renda para famílias com crianças, corte de tributos indiretos e investimento
público em carros elétricos (incluindo adaptação da rede de energia).
Nos EUA de Trump, o governo
republicano discute um programa de US$ 1 trilhão para reconstrução
pós-pandemia, enquanto a oposição democrata elabora proposta de mais
investimento em infraestrutura, transferências de renda aos mais pobres e
reforma do sistema de saúde no âmbito de um “Green New Deal”. A inspiração dos
democratas norte-americanos é o que Roosevelt fez para combater a grande
depressão dos anos 1930, só que adaptada à realidade de hoje e incluindo a
disputa acirrada com a China pela liderança em tecnologias de inteligência artificial.
E no Brasil? Por enquanto nosso
programa de reconstrução é não ter programa de reconstrução. Continuamos
apostando que, em 2021, o retorno ao arrocho fiscal produzirá expansão
espontânea do “PIB privado”, sem necessidade de qualquer outra ação por parte
do governo. Porém, como a crise é grave e os exemplos de fora apontam em outra
direção, provavelmente o governo mudará de posição no próximo ano, com ou sem
Bolsonaro. (Fonte: Folha de S. Paulo)
A frente ampla é necessária e possível https://bit.ly/2YfnI0v
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