29 junho 2020

Unidade e luta


Nossa disputa por dentro da Frente Ampla

Edilson Silva*


O Jornal Nacional da Globo, de sábado passado (27), fez uma cobertura do ato virtual organizado pelo “Direitos Já” que nos mostra a importância da esquerda não deixar o discurso da defesa da unidade em torno da democracia, da vida e dos direitos nas mãos da direita e da própria Globo.
Na sua edição, a Globo fez questão de, nem tão sutilmente, separar a esquerda do “centro”. A narração diz que a esquerda defendeu o impeachment, e que políticos de centro defenderam a “unidade”.
Há várias malandragens políticas na narrativa da Globo, para passar a sua tática nesta conjuntura. Vamos a elas.
A primeira foi/é tratar a “direita política” como se fosse “centro”. O PSDB e o DEM, a grande maioria do PMDB, não são “centro”, são a direita no Brasil. Na geometria política, essa metodologia da Globo tira Bolsonaro de um polo extremista de direita e vai pavimentando o caminho para o seguimento de sua política, que é tão somente “domesticar” este monstro fascista que é Bolsonaro e seu governo.
Na esteira desta narrativa, a Globo tenta colocar um sinal de igual entre a postura da esquerda e a postura de Bolsonaro. Seriam estas as partes beligerantes, as extremidades de um conflito “político” no sentido pejorativo do termo, enquanto o “centro” quer a unidade do país em torno do que realmente interessa.
E para não falar do que realmente interessa ao povo, a Globo omite aspectos fundamentais do manifesto assinado pelos mais de 100 participantes do ato, que propõe um respeito aos direitos das maiorias excluídas e que denuncia uma situação também pré existente ao governo Bolsonaro e que, portanto, exigiria por coerência uma auto crítica de muitos que assinam o manifesto, que é inegavelmente um documento progressista, humanista, mesmo não defendendo abertamente o impeachment ou o abreviamento do governo Bolsonaro.
Esta postura da Globo já era esperada e sua edição acusa o golpe recebido contra a sua política de isolar a esquerda e hegemonizar a narrativa antibolsonarista segundo suas conveniências. Felizmente a esquerda se fez presente e as ausências se apequenaram neste momento.
Há uma disputa hoje no Brasil pelos rumos de nossa democracia, e a Globo é um grande e camuflado “partido” político, que tem seus interesses corporativos, financeiros, tem suas contradições também, mas tem um lado muito nítido nesta disputa.
A combinação dos fatos em torno deste movimento de frente ampla, que deu um passo largo com o ato do dia 26 de junho, mostra que a fala de FHC logo antes do ato, defendendo tolerância com a presidência e alertando para a banalização de processos de impeachment, não foi descuido e nem aleatória, mas sim uma resposta política à forte presença de figuras de esquerda na composição da Frente e confirmadas no ato. Não estivessem ali o Flávio Dino, Haddad, Freixo, Boulos, Molón, Luciana Santos e tantas outras referências do mundo partidário de esquerda, assim como referências da luta antirracista de esquerda, como Djamila Ribeiro e Douglas Belchior, dentre tantos outros, FHC poderia ficar camuflado como defensor abstrato de coisas tão bonitas quanto difusas e gasosas.  Sua fala antes do ato talvez quisesse mesmo gerar desfalques e dar argumentos para os críticos da Frente Ampla justificarem suas ausências no movimento político mais importante do país nesta conjuntura inédita para a nossa geração.
Parabéns aos da esquerda envolvidos nesta empreitada corajosa e necessária. As contradições neste processo não estão naquelas cujas biografias se confundem com o manifesto do “Direitos Ja!”, mas nas figuras e forças políticas que acham que podem continuar atuando com discursos democráticos numa mão e práticas de exclusão social na outra. É importante e necessária a presença de todos, para garantir um sentido claro de isolamento do governo Bolsonaro, mas saber exatamente o papel e os limites de cada um é imprescindível.
A Frente Ampla é disputa política, de narrativas, permanente. Dentro desta frente temos que construir nossa unidade da esquerda com a centro esquerda, buscar tirar as palavras do manifesto do papel e materializá-las na vida do povo brasileiro. E o primeiro passo hoje é tirar Bolsonaro da presidência. À luta!
Quem reconhece as ameaças à democracia se une https://bit.ly/2YfnI0v

Nenhum comentário:

Postar um comentário