Nossa
disputa por dentro da Frente Ampla
Edilson Silva*
O Jornal Nacional da Globo, de sábado passado (27), fez uma
cobertura do ato virtual
organizado pelo “Direitos Já” que nos mostra a importância da
esquerda não deixar o discurso da defesa da unidade em torno da democracia, da
vida e dos direitos nas mãos da direita e da própria Globo.
Na sua
edição, a Globo fez questão de, nem tão sutilmente, separar a esquerda do
“centro”. A narração diz que a esquerda defendeu o impeachment, e
que políticos de centro defenderam a “unidade”.
Há várias malandragens
políticas na narrativa da Globo, para passar a sua tática nesta conjuntura.
Vamos a elas.
A primeira foi/é tratar a “direita política” como se fosse
“centro”. O PSDB e o DEM, a grande maioria do PMDB, não são “centro”, são a
direita no Brasil. Na geometria política, essa metodologia da Globo tira
Bolsonaro de um polo extremista de direita e vai pavimentando o caminho para o
seguimento de sua política, que é tão somente “domesticar” este monstro
fascista que é Bolsonaro e seu governo.
Na esteira desta narrativa, a
Globo tenta colocar um sinal de igual entre a postura da esquerda e a postura
de Bolsonaro. Seriam estas as partes beligerantes, as extremidades de um
conflito “político” no sentido pejorativo do termo, enquanto o “centro” quer a
unidade do país em torno do que realmente interessa.
E para não falar do que
realmente interessa ao povo, a Globo omite aspectos fundamentais do manifesto
assinado pelos mais de 100 participantes do ato, que propõe um respeito aos
direitos das maiorias excluídas e que denuncia uma situação também pré
existente ao governo Bolsonaro e que, portanto, exigiria por coerência uma auto
crítica de muitos que assinam o manifesto, que é inegavelmente um documento
progressista, humanista, mesmo não defendendo abertamente o impeachment ou o
abreviamento do governo Bolsonaro.
Esta postura da Globo já era esperada e sua edição acusa o golpe
recebido contra a sua política de isolar a esquerda e hegemonizar a narrativa
antibolsonarista segundo suas conveniências. Felizmente a esquerda se fez
presente e as ausências se apequenaram neste momento.
Há uma disputa hoje no Brasil
pelos rumos de nossa democracia, e a Globo é um grande e camuflado “partido”
político, que tem seus interesses corporativos, financeiros, tem suas
contradições também, mas tem um lado muito nítido nesta disputa.
A combinação dos fatos em torno
deste movimento de frente ampla, que deu um passo largo com o ato do dia 26 de
junho, mostra que a fala de FHC logo antes do ato, defendendo tolerância com a
presidência e alertando para a banalização de processos de impeachment, não foi
descuido e nem aleatória, mas sim uma resposta política à forte presença de
figuras de esquerda na composição da Frente e confirmadas no ato. Não
estivessem ali o Flávio Dino, Haddad, Freixo, Boulos, Molón, Luciana Santos e
tantas outras referências do mundo partidário de esquerda, assim como
referências da luta antirracista de esquerda, como Djamila Ribeiro e Douglas
Belchior, dentre tantos outros, FHC poderia ficar camuflado como defensor
abstrato de coisas tão bonitas quanto difusas e gasosas. Sua fala antes
do ato talvez quisesse mesmo gerar desfalques e dar argumentos para os críticos
da Frente Ampla justificarem suas ausências no movimento político mais
importante do país nesta conjuntura inédita para a nossa geração.
Parabéns aos da esquerda envolvidos nesta empreitada corajosa e
necessária. As contradições neste processo não estão naquelas cujas biografias
se confundem com o manifesto do “Direitos Ja!”, mas nas figuras e forças
políticas que acham que podem continuar atuando com discursos democráticos numa
mão e práticas de exclusão social na outra. É importante e necessária a
presença de todos, para garantir um sentido claro de isolamento do governo
Bolsonaro, mas saber exatamente o papel e os limites de cada um é
imprescindível.
A Frente Ampla é disputa
política, de narrativas, permanente. Dentro desta frente temos que construir
nossa unidade da esquerda com a centro esquerda, buscar tirar as palavras do
manifesto do papel e materializá-las na vida do povo brasileiro. E o primeiro
passo hoje é tirar Bolsonaro da presidência. À luta!
Quem reconhece as
ameaças à democracia se une https://bit.ly/2YfnI0v
Nenhum comentário:
Postar um comentário