Tem os pés de barro, mas não está só
Luciano Siqueira
Completados um ano e meio de governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, qualquer análise que se faça há de assinalar uma fragilidade intrínseca do presidente e do grupo com o qual ele governa.
Simplesmente governa muito mal ou não consegue governar.
Tudo a ver com as condições excepcionais em que foi eleito, surfando num tsunami inesperado, produto de um conjunto de fatores — operação Lava Jato, agressiva campanha midiática contra a política institucional e os partidos, carência de perspectiva na população após o golpe do impeachment contra Dilma, etc. — que possibilitou ao ex-capitão emergir como a única alternativa visível de “renovação”.
Num ambiente tão contaminado pela desesperança e pela falta de perspectiva, a quem observa de fora realmente surge como um fenômeno absurdamente estranho que um candidato visivelmente sem história política consistente, sem propostas de governo minimamente consideráveis e numa campanha marcada por provocações e laivos fascistóides tenha sido eleito presidente da República de um país da importância geopolítica do Brasil.
O fato é que, continuadamente, o presidente demonstra não compreender a dimensão do cargo que ocupa, sequer a sua liturgia, e escolhe entre marginais dos vários ambientes sociais (com raríssimas exceções) seus auxiliares.
É verdade que esse governo representa os interesses essenciais do rentismo e de segmentos mais retrógrados da classe dominante brasileira. Recebe o beneplácito inclusive de instituições como a Federação das Indústrias de São Paulo. Conta com apoio de uma parte da grande mídia. E atrai para seus escaninhos uma parcela expressiva de militares de várias patentes, boa parte deles ainda na ativa.
Não está só, portanto.
E é de se notar que há quase quatro semanas falando baixo e auto-condenado a se retrair de suas costumeiras provocações cotidianas, Bolsonaro se vê órfão dele mesmo. Brigar é a sua convicção e o seu método. Acuado, revela-se tonto e frágil.
Mais: o ministro Paulo Guedes, que o próprio presidente — absolutamente ignorante em matéria de política econômica — considera seu “posto Ipiranga“, nem conhece o Brasil nem reúne um mínimo de criatividade para propor medidas de enfrentamento da crise econômica que não sejam absolutamente enquadradas no seu ideário fiscalista.
O fato é que não corresponde às expectativas de mais de 2/3 da população e frustra o deus mercado.
Tem, portanto, os pés de barro, porém ainda não tão frágeis que vá ao chão.
As oposições (assim mesmo no plural) ainda carecem de agilidade para produzir uma agenda comum destinada ao enfrentamento da crise e capaz de unificá-las e empolgar a sociedade como alternativa ao que está estabelecido.
De maneira muito simples, mas consistente o governador do Maranhão, Flavio Dino, tem sintetizado essa agenda ao afirmar que a frente ampla pela democracia deve traduzir essa bandeira em suas faces institucional, econômica e social.
Agora teremos eleições municipais, cujos resultados poderão pesar na correlação de forças na sociedade, a depender do quantitativo de prefeitos e vereadores eleitos, sobretudo nas capitais e cidades de 100.000 habitantes em diante, pelo oposição ou em apoio ao governo.
Luciano Siqueira
Completados um ano e meio de governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, qualquer análise que se faça há de assinalar uma fragilidade intrínseca do presidente e do grupo com o qual ele governa.
Simplesmente governa muito mal ou não consegue governar.
Tudo a ver com as condições excepcionais em que foi eleito, surfando num tsunami inesperado, produto de um conjunto de fatores — operação Lava Jato, agressiva campanha midiática contra a política institucional e os partidos, carência de perspectiva na população após o golpe do impeachment contra Dilma, etc. — que possibilitou ao ex-capitão emergir como a única alternativa visível de “renovação”.
Num ambiente tão contaminado pela desesperança e pela falta de perspectiva, a quem observa de fora realmente surge como um fenômeno absurdamente estranho que um candidato visivelmente sem história política consistente, sem propostas de governo minimamente consideráveis e numa campanha marcada por provocações e laivos fascistóides tenha sido eleito presidente da República de um país da importância geopolítica do Brasil.
O fato é que, continuadamente, o presidente demonstra não compreender a dimensão do cargo que ocupa, sequer a sua liturgia, e escolhe entre marginais dos vários ambientes sociais (com raríssimas exceções) seus auxiliares.
É verdade que esse governo representa os interesses essenciais do rentismo e de segmentos mais retrógrados da classe dominante brasileira. Recebe o beneplácito inclusive de instituições como a Federação das Indústrias de São Paulo. Conta com apoio de uma parte da grande mídia. E atrai para seus escaninhos uma parcela expressiva de militares de várias patentes, boa parte deles ainda na ativa.
Não está só, portanto.
E é de se notar que há quase quatro semanas falando baixo e auto-condenado a se retrair de suas costumeiras provocações cotidianas, Bolsonaro se vê órfão dele mesmo. Brigar é a sua convicção e o seu método. Acuado, revela-se tonto e frágil.
Mais: o ministro Paulo Guedes, que o próprio presidente — absolutamente ignorante em matéria de política econômica — considera seu “posto Ipiranga“, nem conhece o Brasil nem reúne um mínimo de criatividade para propor medidas de enfrentamento da crise econômica que não sejam absolutamente enquadradas no seu ideário fiscalista.
O fato é que não corresponde às expectativas de mais de 2/3 da população e frustra o deus mercado.
Tem, portanto, os pés de barro, porém ainda não tão frágeis que vá ao chão.
As oposições (assim mesmo no plural) ainda carecem de agilidade para produzir uma agenda comum destinada ao enfrentamento da crise e capaz de unificá-las e empolgar a sociedade como alternativa ao que está estabelecido.
De maneira muito simples, mas consistente o governador do Maranhão, Flavio Dino, tem sintetizado essa agenda ao afirmar que a frente ampla pela democracia deve traduzir essa bandeira em suas faces institucional, econômica e social.
Agora teremos eleições municipais, cujos resultados poderão pesar na correlação de forças na sociedade, a depender do quantitativo de prefeitos e vereadores eleitos, sobretudo nas capitais e cidades de 100.000 habitantes em diante, pelo oposição ou em apoio ao governo.
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