Bolsonaro
sabe o que esconde e se preparou para montar sistema protetor
Presidente transformou a Seopi, criada
para intermediar ações das polícias, em serviço de informação interna
Janio de
Freitas, na Folha de S. Paulo
O lento caminhar dos inquéritos sobre as relações
sigilosas dos Bolsonaro e Fabrício Queiroz tem um mérito
preliminar: baseia-se em investigações, trabalho de promotores e polícia do
Rio, e não em chantagistas delações bem premiadas, tipo Lava Jato curitibana.
Outro
mérito do gênero, não assola o sensacionalismo que tira imprensa e TV do
jornalismo para os interesses políticos e econômicos. Mas estende com perigo,
sob o cerco de atingidos descontrolados, uma situação com implicações
importantes na ordem institucional. Por mais grave que seja, o já revelado está
longe do que pode alcançar.
Bolsonaro sabe o que esconde e se preparou desde a campanha para
montar um sistema protetor. O caso ainda em curso do dossiê sobre antifascistas, montado no Ministério
da Justiça, é um exemplo que independente do documento, aliás, existente mesmo. Foi feito na Seopi, Secretaria de
Operações Integradas, como revelado no UOL pelo repórter Rubens Valente.
Um
serviço criado no ministério para intermediar ações conjuntas de polícias
federal e estaduais. Nada a ver com espionagem política, judicial ou qualquer
outra.
Até
1º de janeiro de 2019. No dia mesmo da posse, Bolsonaro decreta, encoberta
pelos acontecimentos públicos, a transformação da Seopi em serviço de
informação interna. Medida, claro, articulada com Sérgio Moro, que assumia o
ministério e viria a conduzir a alteração. Dela foi incumbido o coronel Gilson
Mendes Libório, demitido pelo atual ministro André Mendonça quando revelado o
dossiê.
A Seopi de espionagem teve uma citação pública, pelo próprio
Bolsonaro, embora continuasse desconhecida. Durante a reunião de botequineiros
no Planalto em 22 de abril, e antes que Abraham Weintraub satisfizesse
Bolsonaro com o ataque aos ministros do Supremo, o assunto relevante foram os
serviços de informação.
Bolsonaro
atacou todos, por omissão das informações que lhe interessavam, até berrar uma
ressalva: “Menos o meu, particular”. Seguiu-se orgulhoso elogio.
Desde
então, muitos se perguntaram que serviço particular seria aquele. A Seopi.
Recriada para as necessidades de Bolsonaro & família. Com serviços
como o dossiê sobre 579 policiais e três professores antifascistas, quer
dizer, democratas perigosos. Datado de junho, pode ser o mais recente, mas não
é imaginável que seja o único em 18 meses de “serviço particular” de informação
espiã para Bolsonaro.
Com
a revelação que prejudica a continuidade da espionagem bolsanara pela Seopi, reaparece,
às pressas, a criação de um Ministério da Segurança Pública. Um ministério para
a segurança dos Bolsonaro. O nome, com máscara de público, é irrelevante, seu
cinismo não precisa de exame.
Por ora, mais interessante será verificar, por exemplo, se os 27 depósitos com R$ 87 mil, feitos por Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar em conta de Michelle Bolsonaro, foram para a destinatária ou não.
Por ora, mais interessante será verificar, por exemplo, se os 27 depósitos com R$ 87 mil, feitos por Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar em conta de Michelle Bolsonaro, foram para a destinatária ou não.
O primeiro depósito descoberto, de R$ 24 mil, nunca motivou nela
uma só palavra que fugisse ao seu modo discreto e elegante. Nem mesmo por uma
notinha, salvo seja. E nisso há algum significado, até por ser ela muito mais
habilitada a pensar e falar do que Bolsonaro, inventor da patetice de
empréstimo de R$ 40 mil a Queiroz.
Aprofundado,
o comprometimento do nome de Michelle sujeita-a a efeitos judiciais comuns. O
que seria uma vergonha a mais, mas não um sismo institucional.
Este
é previsível com o avanço, se houver, dos inquéritos no Rio sobre os Bolsonaro.
Os inquéritos atuais, que dos possíveis e justific —cala-te boca.
NO CORAÇÃO
Ex-secretário
da Receita Federal, de comprovada competência, Everardo Maciel diz, a um só
tempo, o mínimo e tudo sobre a “reforma” tributária projetada por Paulo Guedes:
“Aumentam a carga tributária da escola e diminuem a do carro de luxo”.
Imitando-o:
criam imposto sobre o livro e conservam a dispensa de R$ 300 bilhões de
impostos, quase todos de graúdos.
O drama do desemprego no Brasil agora https://bit.ly/2X75FJ6
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