14 anos de Lei Maria da Penha, por Jandira Feghali
Numa sociedade como a nossa, chagas profundas do patriarcado, machismo e da violência de gênero são feridas sempre abertas e abrem purulentas em crises como a de hoje
Jandira Feghalli, portal Vermelho
A pandemia do Covid-19 trouxe para maioria das mulheres inúmeros
impactos, desde a jornada doméstica redobrada com filhos sem ir à escola, à
perda total da renda ou o arremesso à linha de frente na crise sanitária, como
as que atuam em categorias essenciais. São elas maioria na enfermagem e nos
supermercados. Se associamos o recorte racial então esse quadro se intensifica.
A violência contra a mulher
também choca. Esse crime aumentou em nosso estado e os números são drásticos! O
ISP registrou aumento de 17% de ocorrências entre março e abril. Já o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública registrou no mesmo período aumento de ligações
pedindo socorro ao número 190. Passaram de 15.386 ligações em 2019 para perto
de 16 mil este ano.
Os números chocantes não param.
De acordo com o Tribunal de Justiça, mais de 60 medidas protetivas foram
expedidas – por dia – em abril.
A constante campanha de ódio e violência alimentada pelo Governo
Federal e seus apoiadores mais obtusos ajudam na formação desse caldo de
cultura perigosíssimo contra a democracia e a vida das mulheres, até mesmo no
meio de uma pandemia. Não é à toa que a violência doméstica ficou mais visível
nestes tempos.
A crise sanitária, inclusive,
pode ter amenizado os números fluminenses deste último prejuízo. Isso porque a
rotina dentro da pandemia pode ter dificultado que muitas vítimas buscassem
socorro, levando a uma subnotificação da violência doméstica em diversas
regiões de nosso estado. O necessário isolamento social revelou a face machista
e misógina de muitas parceiros – que um dia, certamente, viria à tona.
Numa sociedade como a nossa,
chagas profundas do patriarcado, machismo e da violência de gênero são feridas
sempre abertas e abrem purulentas em crises como a de hoje. Foi por causa
dessas mazelas estruturais que há 14 anos pude, com muitas contribuições e como
relatora na Câmara dos Deputados, construir o texto final da Lei Maria da
Penha. Desde 2006, todo 7 de agosto, quando celebramos a sanção da lei,
levantamos essa pauta para que menos mulheres sejam agredidas, não se calem,
denunciem seus agressores e todos sejam punidos no rigor da lei. As vidas valem
muito!
Atualmente avançamos politicamente no sentido de fortalecer a
lei, aprovando projetos que fortaleceram o combate, a exemplo da proposta que
manteve como essenciais e em pleno funcionamento na pandemia os serviços de
atendimento e proteção às mulheres, dando prioridade nos atendimentos.
O coronavírus expôs nossas
dificuldades enquanto sociedade. Das medidas de proteção básicas contra o
vírus, passando pelo respeito ao isolamento social e o convívio harmonioso nos
lares. Para sairmos de cenários de intensa violência contra mulher será
necessário muito mais dedicação de governos e sociedade, tanto na prevenção
quanto na punição.
Precisamos imediatamente
retomar a luta pela cultura de paz e exigir o cumprimento integral da Lei Maria
da Penha para que possamos alcançar no futuro um patamar civilizatório em que
violência doméstica seja apenas uma triste lembrança em nossa trajetória
social.
Viver em quarentena não é fácil https://bit.ly/2Xm2lK5
Nenhum comentário:
Postar um comentário