06 setembro 2020

Carências do nosso futebol


Prefiro a instabilidade do São Paulo à regularidade de Palmeiras e Corinthians
Para a maioria dos times brasileiros, faltam aproximações, triangulações, passes decisivos e talento individual
Tostão, na Folha de S. Paulo

A maioria dos times brasileiros cria poucas chances de gol. Além de chegar à área adversária com menos jogadores, faltam aproximações, triangulações, passes decisivos no momento certo, lucidez nas escolhas e talento individual.
Existe um excesso de bolas aéreas, com a esperança de alguém cabecear e de a bola sobrar para alguém marcar. Às vezes, funciona, mas é muito pouco e feio.
Dadá Maravilha diria que feio é não fazer o gol, mas os gols com muita troca de passes e/ou com belas jogadas individuais, como os do Flamengo contra o Bahia, enriquecem o espetáculo e perpetuam o bom nível de qualidade e de interesse no esporte.
As equipes que pressionam e recuperam a bola mais perto do outro gol chegam com mais jogadores ao ataque e têm mais chances de marcar. As três, no Campeonato Brasileiro, que marcam por pressão com mais regularidade e frequência são o Internacional, o Atlético-MG e o Flamengo, especialmente quando ainda tinha o técnico português Jorge Jesus, todas dirigidas por técnicos estrangeiros.
O Bayern de Munique, nos jogos finais da Liga dos Campeões da Europa, usando a mesma estratégia, tinha quase sempre quatro ou cinco jogadores perto do gol adversário.
Já as equipes que marcam muito atrás e que fecham os espaços perto da área, para contra-atacar, ficam muito distantes do outro gol.
O Cruzeiro, na Série B do Nacional, marca bem, mas não consegue chegar à frente e criar chances.
Quem não ataca não vence o jogo. Empate é péssimo em campeonatos por pontos corridos.
O Palmeiras, em casa, contra o Inter, com a maioria dos reservas, tinha apenas um jogador perto do gol, o centroavante Luiz Adriano. Os outros cinco do meio para frente ficavam distantes da área adversária.
O Corinthians também ameaça muito pouco.
Prefiro a instabilidade do São Paulo, entre um jogo e outro ou durante a mesma partida, como aconteceu contra o Atlético-MG, quando poderia golear e perdeu por 3 a 0, à regularidade de times como Palmeiras e Corinthians, que repetem, durante os 90 minutos, a mesma pobreza técnica. O São Paulo está à frente, na tabela, dos outros times paulistas. Falta à equipe mais qualidade individual no ataque.
Por outro lado, é preciso reconhecer que alguns técnicos brasileiros tentam marcar por pressão e jogar com os zagueiros mais adiantados, como é frequente em todo o mundo, para diminuir os espaços entre a defesa e o meio-campo. Mas isso ainda é feito irregularmente, timidamente.
O Flamengo, contra o Bahia, voltou a encantar, com belos lances coletivos e individuais. Faltou a intensidade na marcação por pressão do ano passado.
A equipe mudou o desenho tático nos últimos três jogos e passou a jogar de uma maneira parecida com a do Manchester City, dirigido por Guardiola.
Nas duas partidas anteriores à contra o Bahia, o Flamengo jogou com um volante, um meia de cada lado do campo, dois pontas abertos e um centroavante. Contra o time nordestino, o meia Arrascaeta atuou mais perto do centroavante Pedro.
 com Jorge Jesus, não havia pontas abertos. A equipe jogava com um volante, uma linha de três armadores e dois atacantes.
As referências de Éverton Ribeiro e do uruguaio Arrascaeta eram pelos lados, porém, sem posições fixas.
O Flamengo enfrentaria o Fortaleza neste sábado (5).
O antigo conceito de que o treinador precisa organizar o sistema defensivo e deixar que os jogadores do meio de campo para frente encontrem soluções individuais está ultrapassado.
É fundamental unir a inventividade, a técnica e a fantasia com a disciplina tática.
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