Sem fôlego e atrasado
Luciano
Siqueira
Estou entre
os que consideram o WhatsApp uma boa invenção. Facilita a comunicação rápida e
ágil aqui e em toda parte do Planeta.
Mas por isso
mesmo me angustia.
Tudo tão rápido
e tão fácil, mas cadê fôlego para acompanhar em tempo real a avalanche de
mensagens?
Nos grupos,
nem se fala. Participo de alguns por dever funcional ou por delicadeza,
antecipando que me pronuncio raramente e em último caso. Como distinguir a olho
nu mensagens religiosas, de autoajuda ou simplesmente bom dia, boa tarde, boa
noite, bom fim de semana de um pedido de socorro ou o aviso de que, afinal,
Bolsonaro renunciou?
Sou adepto da
lista de transmissão. Você manda uma mensagem igualmente endereçada a uma turma
que supõe interessada e se alguém responde só você sabe. E toca o diálogo.
Também gosto
de me dirigir às pessoas em mensagem de áudio. Em geral todo mundo escuta,
mesmo quando em plena faxina na memória do celular.
São tantos
vídeos que ninguém resiste à tentação de apagar muitos sem ter visto. Cards
também.
Mas a
mensagem de áudio tem outro status. É quase uma conversa telefônica como
antigamente, ao vivo.
Ocorre que o
número do meu celular, o único que uso, milhares de pessoas o tem. Sabem que
gosto de receber ligações. E se sentem à vontade para me abordar sobre qualquer
assunto – o que muito me agrada.
Tenho até uma
rotina dedicada a isso, com espaços definidos na agenda.
Mas a
pandemia esculhambou tudo. O tal home office rompe com todas as boas expectativas
de bom proveito do tempo. O trabalho consome a gente em videoconferências, que
se sucedem.
Aí a leitura
programada vai para o Beleléu, a comunicação pelo WhatsApp é inapelavelmente
atropelada.
Um duplo desgaste:
o de quem se dirige a mim e fica dias à espera de resposta; e o meu, que de
relance percebo que as mensagens se acumulam e me vejo numa corrida de
obstáculos em que estou atrasado e quase sem fôlego.
Sabe aquela
comunicação entre indígenas que a distâncias imensas trocam mensagens através
de sons? Estou assim. Com o celular à mão e a sensação de que as distâncias não
se encurtaram, se acumularam...
Só me resta
pedir paciência: estou atrasado, quase sem fôlego – mas chego.
Viver em quarentena é um desafio https://bit.ly/2Xm2lK5
Nenhum comentário:
Postar um comentário