15 setembro 2020

Município desafiante


Somos todos jaboatonenses

Thiago Modenessi

Segundo município de Pernambuco, fundado em 4 de maio de 1593 apenas como Jaboatão, com larga extensão territorial, entre as 30 maiores cidades do Brasil, possuindo grande quantidade de indústrias, praias e chamada de berço de nossa pátria por sediar a Batalha dos Guararapes em que pernambucanos e portugueses expulsaram os holandeses, esse é o local que em 1989 passaria a ser conhecido como Jaboatão dos Guararapes.

Após a ditadura militar, que perseguiu e matou lideranças da luta dos ferroviários e dos partidos de esquerda que resistiam a ela, Jaboatão dos Guararapes vem amargando uma sequência de problemas políticos, vários governos ruins que não conseguiram vencer mazelas que não deveriam existir numa cidade desse porte, a exemplo de alto índice de violência e grande insegurança, saneamento entre os piores do Brasil, ausência de espaços para prática de esporte e cultura, rede de saúde que não atende à população e falta de articulação para captação de indústrias e empregos.

É o município de Pernambuco que mais passou pelo processo traumático de intervenção. No período pós-ditadura passamos por duas: o prefeito Fagundes Menezes, que já tinha sido obrigado a sair o cargo no auge da ditadura militar, em 1969, também foi afastado no governo de Roberto Magalhães (PFL), em 1984, para dar lugar ao interventor Marcos Vasconcelos. Em 1988, Fagundes conseguiu se eleger prefeito, mas o governador Miguel Arraes (PSB) o retirou do cargo após suas contas serem rejeitadas pelo TCE. Na época, Arraes nomeou Roberto Rêgo e depois, Ned Cavalcante. 

O ex-prefeito Newton Carneiro (PPB) foi também substituído pelo interventor Byron Sarinho, nomeado pelo governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), em fevereiro de 1999, mas o vice, Fernando Rodovalho (PSC), conseguiu assumir o cargo em junho daquele mesmo ano. Naquela época, a Câmara Municipal de Jaboatão também sofreu intervenção. Newton se elegeu novamente em 2004 e teve outro governo marcado por denúncias de corrupção. Hoje a cidade vive sob os holofotes da Operação Pandora, que mira a Câmara de Vereadores, essa já foi alvo de outras operações e destaque negativo com denúncias de funcionários fantasmas veiculados nacionalmente em anos anteriores.

Porém, mesmo com todas essas dificuldades, milhares de pessoas adotam a cidade, nossa população segue crescendo, essas passam a ter seus negócios, trabalhos e vidas em nossa terra, pagam impostos, estudam e criam raízes culturais e sociais. Destaco isso porque entre as idiossincrasias jaboatonenses aparece volta e meia o debate do “filho da terra”, do sentimento nativista, como discurso de que esse seria o bom político que chegaria em tempo de eleição para resolver todos os problemas. Aquele que apenas por ter nascido na cidade seria mais talhado para isso…

Num claro sentimento xenófobo, que nada combina com cidades metropolitanas, cosmopolitas, em que as pessoas transitam e se misturam em função do lazer, cultura, estudo e trabalho, esse discurso empobrece o debate político, desrespeita os que optaram pelo município para construir suas famílias e mostra uma visão retrógrada, conservadora e oportunista. Na prática, no mundo globalizado do século XXI, as soluções e problemas são interligados, metropolitanos em grande monta, no caso de Jaboatão, não é à toa que há consórcios das cidades do Grande Recife discutindo segurança e transporte coletivo e outras temáticas.

Jaboatão dos Guararapes já teve prefeitos “forasteiros” que fizeram excelentes gestões, modernizaram o município, ampliaram os mecanismos de consulta popular e programas sociais, a exemplo de Elias Gomes e outros que amargam alto índice de rejeição, patinando ao não apresentar soluções reais para os complexos problemas que nos afligem, como o atual gestor Anderson Ferreira.

Ser de uma cidade é uma opção, eu tive a honra de ser agraciado como cidadão jaboatonense pela Câmara de Vereadores ano passado, mas não sou daqui, vim de São Paulo, vivo em solo de Jaboatão há 30 anos. Assim como eu há milhares que sonham com uma cidade melhor e que não admitem o preconceito com os que não foram paridos na cidade, digo isso porque ser de Jaboatão dos Guararapes é algo que nos engrandece. Por isso, xô preconceito e xenofobia.

Veja: Eleições municipais em tempo de crise https://bit.ly/2FE2IJY

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