Desmame catastrófico
Luciano Siqueira
Luciano Siqueira
Há drogas ditas “heróicas” na clínica médica, absolutamente necessárias para salvar o doente num dado momento, mas perigosas pelos efeitos colaterais, sobretudo quando em uso prolongado. Mais: ao subtraí-las, há que se proceder ao desmame – ou seja, a diminuição gradativa da dosagem.
Os corticóides são um bom
exemplo, dentre as drogas mais conhecidas do grande público.
A pandemia alcançou o Brasil já em profunda crise econômica. A junta médica –
no caso o governo Bolsonaro – perdeu-se no negacionismo científico que o levou
a subestimar a gravidade da Covid-19 e no fundamentalismo fiscalista de Guedes
e seus Chicago boys, que agravaram o desastre econômico.
Sob pressão do Congresso Nacional, o governo terminou por adotar o auxilio
emergencial. Não queria, mas foi obrigado a fazê-lo.
E atendeu à quase metade da
população brasileira, 70% então sobrevivente com renda familiar média de 3
reais/dia.
Um alívio para milhões de famílias desesperadas.
Um estímulo para uma economia cambaleante, que depende cada vez mais do
fragilizado mercado interno.
E assim o governo atirou (constrangido) no que não quis enxergar e acertou nas
necessidade básicas de milhões.
No ambiente confuso, em que a narrativa ultradireitista que se fez vitoriosa há
menos de dois anos ainda predomina, o auxilio emergencial ironicamente
tornou-se fator de resiliência para Bolsonaro e sua trupe.
Agora, o presidente, tocado pela mosca azul de certa popularidade no Nordeste,
reluta em extinguir de pronto a droga, adota um desmame que deve ir até
dezembro e não sabe ao certo o destino do paciente.
O PIB negativo de 9,7% do
segundo trimestre dá a medida da gravidade da situação.
E o que se fará a partir de janeiro?
A UTI parece ser o destino inapelável do paciente. Não por ausência de
alternativas terapêuticas, mas por opção desastrosa da equipe médica.
O desenvolvimentismo só pode levar a um desastre, repete Paulo Guedes tantas
vezes quanto precise para convencer seu atônito presidente e agradar seus
patrocinadores do chamado “mercado”.
Ou seja, ao Estado cabe pouco ou quase nada. Nas forças do mercado - cada vez
mais submetido ao rentismo - residem nossas chances (sic).
E no meio do caminho há o pleito municipal de novembro, a ser vivido por um
eleitorado majoritariamente empobrecido, insatisfeito, inseguro, sem
perspectivas.
O desemprego e suas variantes
emergem como um dos temas centrais do embate. Desafio para os litigantes em
âmbito municipal, fator de corrosão do bolsonarismo.
A depender da capacidade de convencimento e de arregimentação das forças que
resistem ao bolsonarismo, um passo adiante poderá ser conquistado na peleja
nacional, que parece ser mais complexa e prolongada do que muitos supunham.
Veja: Um fator de
agravamento da crise https://bit.ly/2X75FJ6
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