10 outubro 2020

Consciência emancipacionista

 

TRÊS LIÇÕES DE CLASSE

Wallace Melo*

 

A histórica relação entre capital e trabalho nos permite enxergar e compreender muitos aspectos que alicerçam as sociedades capitalistas, uma vez que, a produção econômica torna-se elemento determinante para o entendimento acerca das interações e forma de organização do nosso meio.

Com a pandemia, essa relação, em dados momentos, ficou bastante nítida, uma vez que percebemos o quanto as estruturas são afetadas, seja quando os processos produtivos cessam ou retardam, ou quando crescem em sua oferta e demanda. Em ambos os casos, as implicações se estabelecem, principalmente, na interação entre trabalhadores e patronato.

Quando falamos em aumento dos ganhos com a produção, percebemos, em dados casos, ao invés da valorização da mão de obra, uma maior exploração do trabalho. Pensemos aqui, nas empresas de aplicativo, o quanto essas estão lucrando, em detrimento do cotidiano dos seus trabalhadores(as).

Por outro lado, no momento que o déficit na produção é percebido, também sofre a classe obreira, seja com demissões ou com retiradas de direitos. É assim que os fatos teimam em funcionar. Dessa forma, os trabalhadores e trabalhadoras ficam praticamente entre a cruz e a espada.

A situação só piora. Após a reforma trabalhista, imposta pelo ex-presidente golpista, Michel Temer, as organizações sindicais foram profundamente afetadas e preteridas pelo Estado. Os direitos foram flexibilizados e os interesses empresariais tornaram-se a única agenda governamental.

O desemprego e a precarização das relações laborais são emergentes e a mentira do “menos direitos, mais empregos” está sendo percebida, sobretudo nesse horizonte de crise.

Mas, o que fazer perante esse estado de coisas?

Ora, se a agenda econômica não é favorável aos trabalhadores e trabalhadoras, sem dúvidas que a ferramenta mais viável para invertermos a lógica posta, ainda se encontra no fortalecimento das lutas e das organizações sindicais. Eis a ferramenta estratégica no empreendimento de entendimentos e acúmulo de forças necessárias para o momento.

Frente a isso, avalio que a classe trabalhadora, junto as suas organizações detêm algumas importantes tarefas a serem desempenhadas a luz do atual contexto histórico. A primeira consiste no fortalecimento dos sindicatos, é imperioso que, mesmo em cenário adverso, tenhamos sempre a motivação de construirmos entidades fortes e alinhadas com os anseios classistas e de suas respectivas categorias.

Também pontuo como elemento central dessa discussão, a ampliação dos sindicatos como organizações responsáveis pela formação da classe trabalhadora, seja no que tange a questões mais amplas da política e da economia, quanto aos pontos mais específicos do cotidiano de suas bases.

E por fim, ter a capacidade de dialogar com os amplos setores da sociedade e assim, construir o hábito de “falar pra fora”, formar/disputar a opinião pública, ocupar espaços da política (cargos eletivos, conselhos etc.).

O tempo não permite mais que tais entidades sejam incubadoras de práticas sectaristas, isoladas ou corporativistas. É como diz a máxima operária, “sindicato que não debate ou tampouco faz política, torna-se apenas um mero clube de vantagens”.

No horizonte, os ventos podem nos levar a mudanças, aproveitemos e sigamos firmes e unidos em lutas!

Wallace Melo Barbosa é professor, humanista, secretário de formação sindical do Sinpro Pernambuco

Por que partidos políticos são tão necessários? https://bit.ly/3jbou6m

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