04 outubro 2020

Crônica do domingo


A roupa do domingo
Luciano Siqueira 

Na minha infância os dias da semana tinham um significado próprio, pelo menos lá em casa onde o costume era considerar de segunda a sexta dias “normais“, o sábado dia da feira e o domingo guardava uma certa solenidade.

Morávamos na Lagoa Seca, em Natal. A feira meu pai fazia bem cedinho no bairro vizinho, Alecrim.

Fui com ele várias vezes e me sentia importante porque seguíamos pouco depois das 5h00 da manhã, a pé, eu escutando a conversa dos adultos.

Num certo período se falava da saúde de um tal Dr. Choque, um cidadão assim apelidado em razão de um tique nervoso. Também conversavam sobre a carestia, a inflação dos produtos da cesta básica.

Certa vez se comentou a vinda do grande astro da época, Cauby Peixoto, que viria a Natal trazido pela recém-fundada Rádio Nordeste.

Na tarde do domingo devíamos estar todos “bem arrumados”, como recomendava minha mãe. Mesmo que não fôssemos a lugar nenhum.

Hoje a dimensão do tempo e dos dias é outra. Nada que se pareça com os hábitos simples de uma família de classe média baixa, num bairro periférico tranquilo, do final dos anos 50.

Em tempo de revolução tecnológica 4.0, nossos hábitos são determinados pela velocidade com que as informações circulam e as coisas acontecem.

Os fatos se sucedem num moto contínuo, sem espaço para atitudes contemplativas nem para a valorização das pequenas coisas da vida.

Na tela do computador ou do smartphone os minutos correm e os dias se confundem e se superpõem.

Não há mais espaço para escolher solenemente que roupa vestir no domingo.

Alguns dicas de leitura https://bit.ly/310BQuN  

Nenhum comentário:

Postar um comentário