Amazônia já tem mais queimadas em 2020 do que em todo o ano passado
Número de focos
de calor em outubro já é 73% maior do que o do mesmo mês em 2019
Phillipe
Watanabe, Folha de S. Paulo
O número de
queimadas na Amazônia até
o dia 22 de outubro de 2020 já é maior do que o registrado em todo o ano de
2019.
Até aqui, já foram registrados
89.604 focos de incêndio na Amazônia neste ano. Em todo 2019, o número de
queimadas foi de 89.176. O ano atual também já supera diversos anteriores, como
2018 e 2016.
O crescimento do fogo na
Amazônia acontece apesar da presença das Forças Armadas, na Operação Verde
Brasil 2, na floresta desde maio.
Considerando somente o mês de
outubro, até o dia 22 o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
registrou 13.574 focos de calor, um número 73% maior do que o do mesmo mês do
ano passado. O número também já é 27% superior ao de outubro de 2018 e se
encaminha para superar 2016 e 2017.
As queimadas vêm crescendo mês
após mês desde junho deste ano. Em relação ao observado em 2019, agosto de 2020
teve um registro levemente inferior, mas, naquele mês, houve um problema com os
satélites que acompanham o fogo no bioma, o que resultou em um valor
subestimado.
Pesquisadores
vinham alertando para um possível aumento das queimadas em 2020 por causa dos
grandes e crescentes níveis de desmatamento dos últimos anos —fogo e desmate
estão diretamente relacionados porque, após a derrubada da mata, o fogo é usado
para limpar o material orgânico no local.
Entre agosto de 2018 e julho de 2019, mais de 10 mil km² de
floresta foram derrubados, segundo dados do Prodes (programa do Inpe
que mede o desmatamento anual). O valor é 34% maior do que o do mesmo período
do ano anterior.
Dados do Deter (outro sistema do Inpe, usado para auxiliar
a fiscalização ambiental) apontam que o período 2019-2020 também teve um acentuado crescimento no
desmate.
Ao mesmo tempo em que o fogo cresce em 2020, e não só na
Amazônia, o combate às queimadas é colocado em dúvida. Na última quinta-feira
(22), o Ibama anunciou, por falta de verbas, a interrupção da ação dos
brigadistas contra as queimadas e a determinação do retorno de
todos eles para suas bases.
A ordem atingia todos os biomas, inclusive o Pantanal, que
enfrenta o pior ano de queimadas já registrado no bioma.
Nesta sexta-feira (23), o governo anunciou a retomada imediata da ação
de brigadistas.
"Determino o retorno de todas as brigadas de incêndio
florestal do Ibama para as suas respectivas atividades e operações a partir da
presente data", diz ofício assinado por Ricardo Vianna Barreto, chefe do
Centro Especializado Prevfogo, unidade do Ibama de combate a incêndios.
Outro vaivém relacionado ao combate a incêndios já tinha
ocorrido no fim de agosto, quando o Ministério do Meio Ambiente anunciou a
suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e a queimadas
na Amazônia Legal e no Pantanal por um bloqueio financeiro determinado pela SOF
(Secretaria de Orçamento Federal). Os recursos foram posteriormente
desbloqueadas e as ações, retomadas.
As
múltiplas trincheiras da resistência https://bit.ly/3lg3rl8
Nenhum comentário:
Postar um comentário