O fermento de
Bolsonaro nas pesquisas
Adalberto Monteiro, no Blog do Renato
Mais do que resiliência, as últimas
pesquisas de opinião, a exemplo da que foi realizada pelo Ibope, indicam um
crescimento do presidente Jair Bolsonaro. O fato provoca justificável
estranhamento. Pela conduta irresponsável e criminosa do presidente, o país se
encontra envolto numa tragédia sanitária, social e econômica. E, mesmo assim,
sua aprovação cresce. A explicação mais comumente aceita não está errada, mas é
incompleta. Diz que a causa principal é a ajuda emergencial de R$600,00.
Convicto
disso, Bolsonaro está disposto a qualquer coisa, desde que o Bolsa Família
tenha seu valor aumentado e seu alcance ampliado em alguns milhões de
beneficiários.
Há
outras explicações na praça que se reportam mais à esfera da subjetividade. No
império da distopia, reinaria o execrável, e as emoções manipuladas nas redes,
regidas pelos algoritmos, condicionariam milhões a idolatrar o tirano.
O
fenômeno vai além do Brasil.
No
bojo de uma grande crise mundial do capitalismo, agravada pela pandemia, a
democracia sofre restrições pelo mundo afora, e emerge uma corrente política e
social reacionária, autoritária, neofascista. Soma-se a isso que a alternativa
socialista — o iluminismo do século XXI — ainda não se refez da derrota que
sofreu no século passado, em que pese o papel progressista da China socialista.
Os
monopólios financeiros, econômicos – e hoje sobretudo a grande finança, o
rentismo – sempre, em períodos de crise, tendem a recorrer a governos de feição
ditatorial para fazer valer seus ganhos fabulosos. Que se dane a democracia. A
história documenta o pacto entre Hitler e grandes magnatas alemães.
Voltemos
ao Brasil.
O
fermento que faz Bolsonaro crescer nas pesquisas pode variar conjunturalmente.
Mas,
para que a oposição não se iluda, é bom ter presentes as razões estruturais
dessa subida de Bolsonaro.
O
ineditismo da vitória nas urnas da extrema-direita, desde pelo menos 1985, e a
envergadura da derrota da esquerda nas eleições de 2018.
Forças
de matriz fascista, como é o bolsonarismo, quando ascendem, pelo voto, ao
governo de um país do porte do Brasil encerram uma viragem nas classes sociais,
tanto no topo quanto na base da pirâmide, que não é fácil reverter. É uma luta
que pode ser longa.
Dividida,
a esquerda foi derrotada em 2018 e, depois do revés, aprofundou essa divisão. O
PT, embora siga relevante, perdeu a condição de força hegemônica do campo
progressista e, momentaneamente, não há ainda quem já esteja credenciado a
ocupar seu lugar.
A
pandemia tirou das ruas os protestos do povo. A divisão da esquerda e as ruas
vazias de mobilizações dão a Bolsonaro uma margem grande de manobra.
A
pauta ultraliberal e neocolonial de Bolsonaro, no fundamental, lhe garante o
respaldo do imperialismo estadunidense e de grandes grupos econômicos e
financeiros locais. Há atritos, há descontentamento, posto que essa gente não
se sacia facilmente. Mas, até aqui, na hora do vamos ver blindaram Bolsonaro.
Mesmo a grande mídia – que tem cumprido um papel relevante no que se refere a
denunciar os ataques bolsonaristas à democracia, e a sua irresponsabilidade em
face da pandemia ou da questão ambiental – respalda a agenda econômica
ultraliberal do governo.
Portanto,
a oposição deve ter sangue frio diante dos números das pesquisas de opinião.
Sangue frio e capacidade de colocar em primeiro lugar os interesses da Nação e
da classe trabalhadora. Tomar consciência de que derrotar Bolsonaro em 2022
exige, de um modo ou de outro, a união de amplas forças políticas, econômicas,
sociais e culturais.
Mas,
antes de 2022, há as eleições municipais que oficialmente têm a largada no
próximo dia 27. Embora o foco das disputas de novembro seja o destino das
cidades, nelas haverá também o confronto entre o Bolsonarismo e o campo
democrático, popular, patriótico e progressista.
Mesmo
com as restrições impostas pela pandemia, e com os cuidados devidos, as
candidaturas do campo democrático e popular irão ao encontro do povo, com a
mensagem da esperança, à porta das moradias, dos locais de trabalho, em
encontros e reuniões nas dimensões que forem possíveis.
A
pandemia, também, obrigou milhares, milhões, de cidadãos e cidadãs, a
incorporarem a batalha das redes entre os deveres da cidadania. É bem possível
que o campo da democracia, do povo, ainda que esteja em desvantagem nas redes,
desta vez, nesta arena, atue melhor, posto o aprendizado coletivo que houve
desde o massacre da verdade pelas fakenews em 2018.
Cada
voto ganho, cada vereador, vereadora, prefeita, prefeito, eleitos/as pelo campo
progressista e democrático, será parte do alicerce para o grande confronto de
2022. E que as alianças que não foram possíveis no primeiro turno, por esse
campo político, desde já sejam cerzidas para o segundo turno.
*Adalberto Monteiro,
poeta, jornalista e secretário nacional de Comunicação do PCdoB.
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