11 outubro 2020

Tostão: desafios táticos

Chances de gol importam mais que finalizações e posse na análise de um time

Os números são a ilusão de que podemos explicar tudo o que acontece em uma partida

Tostão, Folha de S. Paulo

 

As estatísticas são importantes para avaliação do futebol, desde que sejam bem utilizadas, no momento certo, sem paixão nem aversão pelos números. As estatísticas podem ajudar ou confundir. São apenas números. Tudo é incerto.

Comentei partidas ao vivo, pela TV Bandeirantes e pela ESPN Brasil. Na época, já havia muitas estatísticas. Eu tinha uma, pessoal, a do número de chances de gol.

Um time pode finalizar muito ao gol, mas não criar uma oportunidade real. Ou o contrário. Um atacante pode entrar livre várias vezes na área, mas ser desarmado no momento da finalização. É uma grande chance de gol. Penso que elas são mais importantes que as finalizações, a posse de bola e outros números, na avaliação dos resultados e da atuação de uma equipe.

Cruzeiro não finaliza nem cria chances de gol.

As estatísticas e as observações técnicas são complexas. Nós é que tentamos simplificar as coisas com racionalização e números.

As estatísticas são também utilizadas de acordo com nossos sentimentos momentâneos, orgulhos e tendências. Quando acontece no jogo o que desejamos, costumamos dizer: "Não falei"? Somos todos tendenciosos e orgulhosos. Uns mais que os outros.

Os números são a ilusão de que podemos explicar tudo o que acontece em uma partida. Números são apenas números. São inexatos, como as observações técnicas e táticas. Dependem muito de outros fatores, principalmente das condutas certas ou erradas dos atletas em uma fração de segundo. Além disso, são frequentes o imponderável, o acaso, a bola que bate em um defensor e entra no gol, um erro de um árbitro e tantas incertezas.

Outra ilusão no futebol, que está na moda, é tentar separar o desempenho do resultado. É o assunto principal em todos os jogos. Os dois se completam ou se confundem. Um quer ser mais importante que o outro.

Seria correto dizer que um time joga bem e não vence, após uma série de partidas, ou o contrário, dizer que a equipe sempre joga mal e vence quase todos os jogos? Não acredito nisso. Quem empata e perde muito, após um bom período de avaliação, sempre joga mal.

Esporte profissional é competição. Quem não ganha, mesmo jogando bem, não tem sucesso. Porém, é essencial que se analise outros fatores, especialmente a qualidade da equipe.

A imprensa esportiva e as redes sociais vivem uma relação próxima e conflituosa. Treinadores, em pouco tempo, são endeusados e triturados. Muitas vezes, não se sabe onde começa e onde termina a demissão de um técnico. Um segue o outro, pois isso aumenta a audiência.

Além de vencer, é fundamental buscar a excelência. A vitória dá mais prazer e melhora a qualidade do espetáculo. A imprecisão e as surpresas do futebol não são também motivos para achar que tudo é relativo, aceitável. Ganha-se e perde-se por milhões de detalhes. É necessário se indignar.

NÃO SE ILUDA

Com muitos reservas, com os jogadores sem atuar nem em seus clubes durante toda a pandemia e distante da altitude, a seleção boliviana é a pior ou uma das piores de todos os tempos.

Contra a Argentina, nas alturas e com os titulares, será diferente. A seriedade do time brasileiro facilitou a goleada por 5 a 0.

Everton Cebolinha, que sempre brilhou pela esquerda, ficou perdido pela direita. Sem precisar marcar, Renan Lodi, foi um bom ponta esquerda. Contra seleções melhores, é outra história. É uma goleada que mais atrapalha que ajuda. Tite, não se iluda!

Veja: A vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP  

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