Indústrias penam com falta de matéria-prima e preço da refeição dispara
Apesar de o Brasil ser grande produtor mundial de minério de ferro e também de algodão, arroz, óleo, entre outros, mercado nacional registra falta dos produtos, que estão sendo exportados
Portal Vermelho
Sem política industrial nem política
de segurança alimentar desde o golpe de 2016, que destituiu a presidenta Dilma
Rousseff, o Brasil, grande produtor mundial de aço, algodão, arroz e soja,
sofre com a falta desses produtos no mercado nacional e com a alta dos preços
dos alimentos.
O governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL)
assumiu há quase dois anos e até agora a equipe econômica, liderada pelo
banqueiro Paulo Guedes, não apresentou uma proposta sequer em áreas essenciais
para o desenvolvimento econômico e sustentável do país. Todas as propostas são
de retirada de direitos sociais, trabalhistas, previdenciários e aceleração do
processo de privatização. Até o Sistema Único de Saúde (SUS), eles querem
privatizar. Esta semana, Bolsonaro recuou da privatização das Unidades Básicas
de Saúde (UBS) depois de uma onda de reprovação em todos os setores da
sociedade.
Enquanto o governo anuncia e recua de
propostas inviáveis, mal elaboradas e não discutidas de forma transparente, que
prejudicam a população brasileira, em especial a mais pobres, as dificuldades
com a falta de matéria-prima paralisam a indústria nacional.
De acordo com pesquisa feita pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), 68% das empresas estão com
dificuldades de comprar matéria-prima para retomar a produção. Além disso, 82%
perceberam alta nos preços dos insumos, sendo que para 31% o aumento foi
acentuado. O levantamento foi feito com 1.855 empresas no país no período
de 1 a 14 de outubro.
Pesquisa Pulso
Empresa
Impacto da Covid-19, da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostrou que no Estado de São Paulo a
situação é a mesma: 51,8% das indústrias tiveram dificuldades na compra de
matérias-primas. A pesquisa foi feita com 414 indústrias paulistas dos dias 7 a
13 de outubro. Dessas, 81,4% apontaram aumento nos preços dos insumos.
Entre os motivos da falta de
matéria-prima apontados pelo estudo da Fiesp está a forte retomada da economia
chinesa, que pressionou o mercado de matérias-primas no mundo. Outro motivo é o
câmbio. De janeiro a setembro, a valorização do dólar em relação ao real foi de
30,1%.
“A falta de matéria-prima no Brasil
agrava o processo de desindustrialização que o país vem sofrendo e o país
caminha a passos largos para virar uma nação apenas produtora de commodities e
importadora de bens manufaturados”, alerta o diretor administrativo do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), Wellington Messias Damasceno.
Os produtores primários estão
ganhando dinheiro com exportação por conta do dólar alto – esta semana um dólar
americano bateu na casa dos R$ 5,766 -, enquanto a indústria brasileira deixa
de produzir por falta destes insumos e a população brasileira sente no bolso o
aumento do custo da alimentação, analisa o dirigente.
A diferença é que esses países
[importadores] têm políticas agressivas de Estado para aquisição de produtos
para sua produção e industrialização, inclusive voltados à exportação. Já o
Brasil enfraquece sua indústria, trabalhadores perdem empregos e renda, com
empobrecimento ainda maior das famílias. Assim não teremos condições de comprar
os produtos que nós mesmos produzimos.
Comida na mesa
É inadmissível o país bater recordes
na safra de alimentos e na extração de minério de ferro e esses produtos
estarem em falta no Brasil, critica o dirigente, preocupado com a escala dos
preços da cesta básica que, entre janeiro e outubro deste ano, subiram 9,75%,
de acordo com Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA–15). No
período, o IPCA-15 subiu 2,31%.
E se forem considerados apenas os
alimentos consumidos no domicílio, aqueles comprados em supermercados, o
aumento nos preços no ano foi de 12,69%, segundo estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no Estadão esta semana.
“O que vem acontecendo na indústria é
o mesmo em relação aos produtos básicos da alimentação, entre eles o arroz e o
óleo de soja. O Brasil bate recordes nas safras de arroz e soja, mas vende para
os mercados chineses e europeus, que estão retomando seu poder de compra e
fazendo estoques de alimentos por conta da preocupação com a segunda onda da
pandemia”, diz o diretor administrativo do SMABC.
“Isso faz com que o Brasil exporte
alimentos baratos enquanto os brasileiros sofrem com a alta no preço, tornando
cada vez mais escassa a alimentação na mesa dos trabalhadores e aumentando a
miséria da população. Tudo é reflexo da falta de uma política estratégica do
governo federal, que impacta nos empregos, na indústria, na cesta de alimentos
das famílias”, concluiu. (Fonte: CUT)
Veja: Situação especial reclama novas formas e
caminhos https://bit.ly/3m5Yjk2
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