Palavras muito mais do que palavras
Luciano Siqueira
Vi de relance uma declaração em vídeo do poeta Manoel de Barros:
- As palavras me fascinam, diz.
Palavras fascinam a todos nós - pela sonoridade, pelo
sentido.
Mas é claro que depende de como são pronunciadas e em que
tom. Uma mesma frase pode soar carinhosa ou autoritária.
Poetas guardam com as palavras uma relação de amor e ódio.
Basta ler atentamente os versos de um João Cabral, Vinícius,
Drummond ou – para citar a poeta pernambucana que ganhou audiência nacional com
o Prêmio Jaboti – Cida Pedrosa para muitas vezes sentir que as palavras ali
contidas brotaram da sensibilidade, da inquietação, da busca.
Dizem que Caymmi demorava meses a fio para concluir a letra
de uma canção, aguardando que a palavra adequada lhe chegasse.
O mesmo ocorre com romancistas e contistas. O moçambicano
Mia Couto nos dá a impressão de que sua relação com o idioma é um caso de
imorredoura paixão, ora alimentada com leveza, ora com certa rispidez. Navega
entre o real e o imaginário com fascinante habilidade. As palavras fluem com sedutora
intimidade.
Mas não perdoam quando maltratadas.
Conheço pelo menos uns três escribas que se dão ao trabalho
de vagar por dicionários em busca de expressões pouco usadas, na tentativa de
demonstrar erudição que não possuem.
A um deles eu disse certa vez que sua atitude era digna de
um Marquês do Pombal, que a seu tempo foi reconhecido por ressuscitar termos
ultrapassados.
Não combina.
Um personagem humorístico de Chico Anízio costumava encerrar
seus discursos afirmando que “palavras são palavras, não mais do que palavras”
...
Porém tem razão o poeta Manoel de Barros: a palavra é tudo.
Veja
uma dica de leitura: Raimundo Carrero https://bit.ly/3pCHkXY
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