Não há mais lugar para treinadores que só têm uma maneira de jogar
Equipes brasileiras, quando
jogavam na Argentina contra River e Boca, ficavam acuadas
Tostão, Folha de S. Paulo
Durante
um longo tempo, critiquei a desatualização de técnicos e times brasileiros, em
comparação ao futebol que se joga na Europa, especialmente nos últimos 15 anos.
Não
aguentava mais ver tantos chutões; bolas cruzadas na área; enormes espaços
entre os setores; zagueiros colados à grande área; dois volantes em linha, um
tocando a bola para o outro; centroavante fixo, à espera de uma bola para
finalizar; pontas que vão e voltam somente encostados à lateral; meias que
atuam em pequenos espaços, entre os volantes e os zagueiros adversários, e que,
de vez em quando, fazem uma jogada de efeito; e tantos outros detalhes.
Isso
tem mudado lentamente. Tenho elogiado as transformações que alguns times e
técnicos têm realizado, com a ajuda de comissões técnicas científicas. A
presença de alguns treinadores estrangeiros, como Jorge Jesus, Sampaoli, Coudet
e Abel Ferreira, contribui para essa transformação. A ciência esportiva entra
em campo, sem abandonar o talento individual e a improvisação. Muitas coisas
ainda precisam mudar, dentro e fora de campo.
A vitória do
Palmeiras, por 3 a 0, sobre o River Plate e
a boa atuação do
Santos, no empate em 0 a 0 com o Boca Juniors,
não foram por acaso. Foram retratos da evolução de times e técnicos que atuam
no Brasil.
Em
épocas recentes, as principais equipes brasileiras, quando jogavam na
Argentina, contra River e Boca, ficavam atrás, acuadas, e, geralmente, perdiam.
Abel
Ferreira, por causa do ótimo meio-campo do River, escalou três jovens nesse
setor, que marcavam e atacavam, e tirou o bom meia de ligação Raphael Veiga.
Como o Boca é um time que troca poucos passes no meio-campo, diferentemente do
River, Cuca escalou um time mais ofensivo, com dois atacantes pelo centro e dois
pelos lados, que voltavam para marcar.
Não
há mais lugar para treinadores que só têm uma maneira de jogar e que adoram
dizer que os europeus é que têm de aprender com os brasileiros, pois somos
pentacampeões do mundo, e para falar “no meu tempo” ou para justificar as
condutas que um dia deram certo.
A
crônica esportiva também tem melhorado. Passamos a valorizar mais as
estatísticas e as discussões entre desempenho e resultado. Muitos times que
atuam mal e ganham algumas partidas estão perto de começar a perder várias
outras.
Por
outro lado, não basta analisar os técnicos somente pela idade e pelos estudos
acadêmicos. O bom treinador é muito mais que isso. Precisa ter capacidade de
comando, de observação e de entender os aspectos emocionais.
O
futebol é mais que um jogo que acontece no gramado. Há muitas variações, dentro
e fora de campo. Tudo é discutível, incerto.
Fernando
Diniz, um dos importantes treinadores da nova geração, tem tido, durante as
partidas, um lamentável
comportamento, como as grosserias e ofensas que proferiu ao meio-campista Tchê
Tchê, ao chamá-lo, entre tantas coisas, de “mascaradinho” e de “ingrato”, como
se dissesse: “Você está aqui por minha causa”. Comentaristas
bonzinhos acharam tudo normal, que tudo se resolve no vestiário.
Abel
Braga, um técnico de outra geração, era considerado ultrapassado, por causa dos
resultados em outros clubes (Flamengo, Cruzeiro e Vasco) e pelas derrotas nos
primeiros jogos no Inter. Hoje, com o Inter em segundo lugar e candidato ao
título, é bastante elogiado. As coisas mudam rapidamente. Sabemos tudo sem
saber de nada.
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