Palmeiras teve muitos momentos de ótimo futebol com Abel, mas retrocedeu
Maratona pode diminuir qualidade
de atuações, mas não justifica eliminação no Mundial
Tostão, Folha de S. Paulo
A maratona de
jogos do Palmeiras é um fato que pode diminuir a
qualidade das atuações, mas não é a causa principal da derrota para
o Tigres. Os maiores motivos são as deficiências técnicas, táticas e
individuais. Não houve também surpresa. As duas equipes estão no mesmo nível.
Nessa partida, o time mexicano foi superior.
Enquanto o
Tigres se agrupava e trocava passes, o Palmeiras, novamente, abusava
dos chutões e das bolas longas da defesa para o ataque, com os jogadores
distanciados uns dos outros. O meio-campo não existia. A bola só passava por
cima. O mesmo aconteceu em várias outras partidas, nas que ganhou e nas que
perdeu. O time, após a
vitória sobre o River Plate, gostou tanto das bolas longas para a
correria de Rony que passou a priorizar essa jogada, até virar a única
estratégia.
O Palmeiras é
mais um exemplo que o estilo de várias equipes se dá pelas
características de alguns atletas. O Barcelona, na época de Guardiola, trocava
tantos passes e tinha tanta posse de bola porque havia Iniesta e Xavi, dois
supercraques no meio-campo. O Palmeiras confiou demais na velocidade dos
atacantes, especialmente na de Rony. Ele é apenas um bom jogador, corredor. Não
pode ditar a maneira de jogar de uma equipe.
No Tigres, o
volante brasileiro Rafael Carioca tocava, recebia, tocava, não errava um passe
nem perdia uma bola. Quando jogou no Atlético-MG, o jogador era, com
frequência, vaiado e criticado. Achavam que era muito lento. O mesmo ocorreu
com o volante Maicon, no São Paulo. No ambiente do Grêmio e com a ajuda de
Renato Gaúcho, mostrou talento e eficiência.
O meio-campo,
repito por mais de 20 anos, foi desvalorizado, durante décadas, no futebol
brasileiro. Era dividido apenas entre os que marcavam e os que atacavam. Isso
tem mudado lentamente.
O Palmeiras, com
Abel Ferreira, teve muitos momentos de ótimo futebol, mas retrocedeu
nos últimos jogos, tanto nas vitórias quanto nas derrotas.
Os melhores
técnicos de todo o mundo perceberam que a questão não é ser impositivo, ser
ofensivo e pressionar, ou ser reativo e jogar nos contra-ataques. É utilizar as
duas maneiras, de acordo com o momento e com o adversário.
O Manchester
City, na goleada sobre o Liverpool, por 4 a 1, pressionava e, quando perdia a
bola e não conseguia recuperá-la, voltava todo para o próprio campo e fechava
os espaços.
Guardiola
passou a fazer isso, após um início de competição muito ruim. A equipe se
recuperou e é líder do Campeonato Inglês. O Manchester City de Guardiola é bem
diferente do Barcelona da época em que Guardiola era o treinador. O técnico e o
futebol evoluíram.
O Bayern, que
disputa na quinta (11) o título mundial contra o Tigres, é um time que
pressiona, acelera e cadencia, troca passes curtos e longos e joga com
velocidade e sem pressa. Possui no meio-campo um craque, Kimmich, que faz tudo
bem, marca, dribla, passa e finaliza. É o volante-meia. É um meio-campista.
O Bayern
organiza as jogadas pelo centro, desvia a bola às laterais, que a retornam
rapidamente ao meio, onde está muito bem posicionado o excepcional finalizador
Lewandowski, pelo alto ou pelo chão.
O futebol
mudou muito nos últimos dez anos e não para de evoluir. Em um jogo, precisamos
olhar para os números e para o gramado. Primeiro, para o gramado. O futebol é
mais que uma ciência. É também arte e emoção. Deveria ser analisado pelas
estatísticas, pela técnica, pela estratégia e pela imaginação.
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