Ex-comandante deixa claro que Exército tentou intimidar STF em 2018
Villas Bôas relatou que quase toda
a cúpula da Força elaborou mensagem divulgada na véspera de julgamento de Lula
Bruno Boghossian, Folha de S.
Paulo
A
cúpula do Exército trabalhou por dois dias para redigir um par de tuítes
que seria divulgado pelo general Eduardo Villas Bôas em 3 de
abril de 2018. Naquela noite, o então comandante publicou mensagens que falavam
em "repúdio à impunidade" e que ficaram marcadas como uma pressão
sobre os ministros do STF que julgariam um habeas corpus do ex-presidente Lula.
Segundo
Villas Bôas, o texto foi escrito por "integrantes do Alto Comando" e
recebeu sugestões de “comandantes militares de área”. Da trama que envolveu a
cúpula da Força, saíram 74 palavras que citavam um Exército "atento às
suas missões institucionais", num aceno óbvio a defensores de uma
intervenção militar.
O
ex-comandante narrou o caso como se descrevesse os caminhos burocráticos de um
memorando pelos escaninhos do Exército. Numa entrevista ao pesquisador Celso de
Castro para o livro "General Villas Bôas: conversa com o comandante",
ele tentou revestir a mensagem de boas intenções, mas o relato não escondeu a
intimidação ao Supremo.
Villas
Bôas afirmou que, na véspera do julgamento que
poderia deixar Lula fora da cadeia, o Exército tinha preocupação com
o "extravasamento da indignação" de grupos que pediam uma intervenção
militar. Disse ainda que o "público interno" da Força tinha
"ansiedade semelhante" e acrescentou que o objetivo dos tuítes era
"um alerta, muito antes do que uma ameaça".
Faltou
explicar a diferença entre uma ameaça e um alerta feito pelo comandante de
tropas armadas. Além disso, se a intenção era acalmar militares irritados e os
golpistas que ele mesmo já definiu como tresloucados, não faria sentido mandar
nenhum alerta. O depoimento mostra que aquelas mensagens eram uma advertência
com endereço certo: os 11 ministros do Supremo.
Páginas
à frente, Villas Bôas comenta a eleição de Jair Bolsonaro e diz que o Exército
tinha "preocupação de que a política
voltasse a entrar nos quartéis". Faltou ao general emitir um
segundo "alerta" em 2018.
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