Parte boa, parte ruim
Luciano Siqueira
A pandemia trouxe
com muita força o chamado home office e, na esteira do trabalho em casa, por
videoconferência, a possibilidade de se fazerem debates os mais diversos, à
distância, em qualquer parte desse país tropical abençoado por Deus.
Assim, vejo-me quase que
diariamente transportado para os lugares mais diversos do país e também aqui de
Pernambuco.
Basta o link e a gente entra em
reunião com diferentes públicos.
Natural que a situação
política, dita “conjuntura”, se sobressaia entre os temas solicitados.
E que me convidem com
frequência.
- A gente quer um debate sobre
a parte boa da conjuntura, pode ser?
O convite, vindo de ativistas
jovens de uma cidade metropolitana, aglutinados em torno da bandeira
ambientalista, pude esclarecer, queria meu costumeiro entusiasmo em relação às
possibilidades da luta do povo, mas preferia que eu não comentasse tanto o lado
tenebroso da situação do país sob o governo Bolsonaro.
- Essa parte é deprimente,
concorda?
Respondi que sim, mas adverti
que nós, do PCdoB, somos por princípio adeptos da análise da realidade concreta
como ponto de partida para a compreensão da cena política e a tomada de posição
sobre opções táticas possíveis. Não há como fugir aos ditos aspectos ruins da
situação.
Não se pode arriscar juízo de
valor consistente sobre a situação, como de resto sobre qualquer objeto da
análise, sem o cotejamento de todos os aspectos possíveis; todas as varáveis e
elementos contraditórios em presença.
Vale para o exame da situação
imediata, vale para o descortino, digamos estratégico, do evolver da sociedade
brasileira.
Tanto que a Fundação Maurício
Grabois, através da Cátedra Cláudio Campos, realiza seminário – composto por
dez mesas sucessivas – destinado a atualizar a compreensão da realidade
brasileira, inserida no contexto mundial, no intuito de atualizar o programa do
PCdoB.
Os impasses em que o País está
metido exigem um novo projeto nacional de desenvolvimento, que se assente no
enfrentamento de problemas estruturais que obstaculizam uma saída consistente para
a crise.
Por exemplo, como financiar
pesados empreendimentos em infraestrutura com recursos estatais contornando
imposições do rentismo internacional, detentor de quase toda a dívida pública?
Isto implica arregimentar amplo
arco político e social animado com a possibilidade de retomar o crescimento
econômico com ampliação das oportunidades de trabalho.
Então, aceitei o convite para a
roda de conversa com os jovens ambientalistas, com o cuidado, entretanto, de
pactuar um olhar multilateral sobre a situação. E com a garantia de que meu
entusiasmo afloraria, sim – porque é sincero, pois apoiado na percepção de que
a base social do extremismo de direita bolsonarista se enfraquece na esteira do
prolongamento da crise econômica e social.
E, quem sabe, venha a se formar
uma ampla coalizão oposicionista em condições de vencer.
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