Gênios são criados e descartados por aqueles que gostam de tudo ou nada
A sociedade do espetáculo gosta de
extremos, de radicalizações
Tostão,
Folha de S. Paulo
O
Palmeiras jogou bem e mereceu mais um
título. É a equipe brasileira mais vencedora em 2020. O
contra-ataque, marca do time, funcionou bem, facilitado pela fragilidade
defensiva do Grêmio.
Abel Ferreira foi
um técnico certeiro ao aproveitar a velocidade dos atacantes e o bom elenco,
alternando a escalação a cada partida, o que diminuiu o cansaço físico e
mental, sem piorar a qualidade.
É
o estilo dos jogadores que define a maneira de jogar de um time. Além disso, é
fundamental executar bem o que foi planejado, função do treinador.
O
veterano Felipe
Melo deu uma aula para os garotos do Palmeiras sobre como se
posicionar e como dar um passe rápido e para frente, entrelinhas, como gostam
de dizer. Todos os volantes brasileiros deveriam aprender e aprimorar essas
jogadas.
Não
foi surpreendente a má atuação do
Palmeiras no Mundial de Clubes. A equipe mostrou suas deficiências,
mesmo contra adversários medianos. O futebol que se joga no Brasil precisa
evoluir.
O
Grêmio, mais uma vez, demonstrou suas deficiências técnicas, táticas e físicas.
No primeiro gol do Palmeiras, Raphael Veiga driblou Maicon e conduziu a bola de
uma intermediária à outra, enquanto os zagueiros do Grêmio permaneceram colados
à grande área. Esses enormes espaços são frequentes em quase todos os times
brasileiros.
Não
havia motivo para Renato
Gaúcho barrar o goleiro Vanderlei nem Jean Pyerre, ainda mais
que os substitutos são jogadores medianos. Thaciano entrou só para marcar as
descidas e os avanços do lateral Viña, passando Alisson a jogar no meio, onde
não é seu lugar. Se o Grêmio tivesse sido campeão, por muitos outros motivos,
Renato diria que teria sido uma tacada de gênio. Seria bastante aplaudido.
Ganharia outra estátua.
Jean
Pyerre precisa definir seu lugar, mais recuado ou como meia-atacante, mais
perto do gol, como Renato e a maioria querem. Não é o lugar certo, nem atrás
nem mais à frente. Ele é um meio-campista, função ignorada no Brasil e bastante
importante na Europa, com a presença de excepcionais jogadores que atuam de uma
intermediária à outra.
Muitos
já comparam Jean Pyerre com outros meias, como Luan e Ganso, que tiveram
grandes momentos na carreira e que caíram bastante de produção. Não é o caso.
Jean Pyerre não teve um período mais longo de sucesso, por estar no início de
carreira, nem fracassou. É uma promessa. Ele, no início, criou uma enorme
expectativa e, com isso, cobram dele atuações de craque. Eu, encantado ao vê-lo
jogar, me excedi nos elogios, com a esperança de que ele se torne o craque no
meio-campo que o futebol brasileiro nem a seleção têm.
Assim
como Jean Pyerre, mesmo sem brilho, não deveria ser barrado, já que não há uma
outra boa opção. Luan, mesmo com atuações
discretas no Corinthians, deveria continuar no time titular, pois
não há bons substitutos. Ele, pelo menos, cria uma esperança. Luan tem chance
de evoluir, mas nunca vai voltar a atuar como em 2017, quando foi eleito o
melhor jogador da América, na conquista da Libertadores pelo Grêmio. Foram
momentos especiais. O mesmo acontece com vários jogadores. Ele era muito bom,
mas nem tanto.
A
sociedade do espetáculo cria, rapidamente, heróis e gênios, para, em seguida,
descartá-los, ainda mais se o “gênio” der chance. A sociedade do espetáculo
gosta de extremos, de radicalizações, de tudo ou nada.
[Ilustração: Luiz Rocha]
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