A velhinha contrabandista
Stanislaw Ponte Preta (Sérgjo Porto)
Diz que era uma velhinha
que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira montada na
lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega – tudo
malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal
da alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou
assim pra ela:
Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com
esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais
os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e
mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o
fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à
velhinha fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de
areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse
um dia com areia e no outro com moamba, dentro daquele maldito saco. No dia
seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar
outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia,
uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou
a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com quarenta anos de
serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça
que a senhora é contrabandista.
Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a
lambreta, quando o fiscal propôs:
Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte,
não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o
contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha.
Juro – respondeu o fiscal.
É lambreta.
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