09 abril 2021

Cena política

Aonde irá a busca por uma terceira via?

Luciano Siqueira

 

Dias atrás, um manifesto em defesa da democracia subscrito por seis personalidades tidas como “presidenciáveis” e, em seguida, declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso colocaram na ribalta articulações em busca de uma terceira via capaz de superar o ex-presidente Lula e Jair Bolsonaro, numa hipotética disputa presidencial ano que vem.

Entre os subscritores do manifesto, apenas Ciro Gomes se situa à esquerda.

Na pregação de FHC, uma vaga referência a um ideário “progressista no social e na economia”, sem entretanto adiantar propostas para a superação da crise.

"Defendamos a Constituição, que é democrática, e saudemos os políticos que creem que é melhor apoiar quem possa chegar à Presidência sem representar um extremo", escreveu ele em artigo publicado no jornais O Globo e O Estado de São Paulo.

Vozes à esquerda de pronto apontaram o dedo contra alguns dos participantes dessa empreitada, alegando tratar-se de ex-apoiadores de Bolsonaro.

Se o apoiaram antes, por que rompem agora?, como se estranho fosse a mudança constante de composição nas alianças políticas, movida pela evolução da realidade concreta e divergências de diversos quilates.

Evidente que se trata de articulações destinadas, em parte, a enfraquecer uma possível candidatura de Lula assentada em arco amplo de alianças.

Lula isolado à esquerda não os ameaçaria. Numa frente eleitoral ampla, sim.

Ninguém pode ser demonizado por mexer pedras no tabuleiro segundo seus interesses e pretensões. Salvo pelos que não compreendem que uma das variáveis táticas essenciais da luta é precisamente acolher desgarrados do campo adversário, para isolá-lo e enfraquece-lo.

Ora, nas articulações dos tais “presidenciáveis” e de FHC o mais importante neste instante é sublinhar a consolidação do isolamento de Bolsonaro.

Isso move águas para o leito comum da oposição, respeitadas as diferenças.

E como composições amplas e capazes de vencer uma grande batalha não se firmam no início da caminhada, mas se concretizam lá adiante, melhor é manter o gume do combate no inimigo comum, ao invés de acentuar defeitos e incoerências entre os que também o combatem.

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