04 abril 2021

O espaço de cada um

Cada jogador tem o seu lugar no campo

Embora seja louvável um atleta jogar em mais de uma posição, os craques brilham quando encontram sua função específica

Tostão, Folha de S. Paulo

 Aguardo a segunda dose, com a esperança de que todos sejam vacinados, até os negacionistas, que recusam a percepção da realidade. Só com o isolamento e a vacinação intensa diminuirá o número de mortes e voltará o aconchego com as pessoas queridas.

Uma decisão positiva, marcante, do técnico Rogério Ceni, no Flamengo, foi a escalação da dupla de volantes Diego e Gérson e de William Arão de zagueiro. Sem querer fazer comparações individuais, o Bayern de Munique, campeão da Europa, possui também uma dupla no meio-campo, formada por Kimmich e Goretzka, que, como os dois do Flamengo, não são clássicos volantes nem meias. Prefiro chamar os quatro jogadores de meio-campistas.

Bayern e Flamengo jogam dessa maneira porque são equipes que pressionam e que têm o domínio da bola e do jogo. Os quatro atuam na maior parte do tempo no campo do adversário. Quando avançam, os zagueiros e o goleiro, principalmente os do Bayern, se adiantam para diminuir o espaço entre eles e o meio-campo. O enorme espaço entre os setores é uma deficiência dos grandes clubes brasileiros.

Jogar com o meio-campo adiantado, mesmo funcionando bem, diminuindo os espaços entre os setores, não deixa de ser um risco calculado. “O que a vida quer da gente é coragem” (João Guimarães Rosa).

Cada um precisa encontrar seu lugar. Bruno Henrique e Gabigol, no Santos, jogavam pelos lados, defendendo e atacando. Eram bons, mas nem tanto. No Flamengo, passaram a jogar, um da meia esquerda e outra da meia direita, para o centro, onde se encontram para finalizar e/ou para trocar passes para um dos dois marcar. Evoluíram. Não são pontas nem centroavantes. São atacantes. Encontraram seus lugares.

Arão, por ser veloz, alto e por ter inteligência coletiva (por perceber todos os detalhes que estão à sua volta) pode até se tornar melhor como zagueiro. Na história do futebol, vários volantes foram muito bem como zagueiros, como Darío Pereyra, no São Paulo, Javier Mascherano, no Barcelona, Edmílson, na seleção brasileira, o espanhol Fernando Hierro, Piazza, na Copa do Mundo de 1970, Roberto Dias, no São Paulo da década de 1960, e outros.

Embora seja louvável e produtivo um atleta jogar em mais de uma posição e exercer mais de uma função em campo, em cada jogo ou mesmo durante uma partida, os craques brilham intensamente quando encontram seu lugar, sua referência, seu jeito de fazer. Assim é também na vida, como diz a belíssima música “My Way”, imortalizada por Frank Sinatra, cada um faz de seu jeito.

Alguns passam toda a carreira e não descobrem seu lugar. Jean Pyerre precisa encontrar o dele, no Grêmio e no futebol. Renato Gaúcho precisa ajudá-lo, e não apenas criticá-lo. Parece até que o técnico desistiu do jogador. Sábado (3) é dia de Gre-Nal. Evidentemente, Jean Pyerre, se quiser brilhar e ser um profissional com consciência de suas virtudes e deficiências e que, em campo, jogue como se a alma transbordasse de emoção, terá de encontrar seu lugar, no gramado e na vida.

Imagino que Jean Pyerre deveria atuar na mesma posição e função que jogam Diego e Gérson, no Flamengo, Kimmich e Goretzka, no Bayern de Munique, e tantos outros meio-campistas, em vez de ser um meia-atacante, para entrar na área e fazer gols, como querem Renato e muitos cronistas esportivos, como se o meio-campo continuasse dividido, como no passado, entre os clássicos volantes e os meias-atacantes.

O futebol brasileiro precisa também encontrar seu lugar.

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