28 maio 2021

Palavra de Cida Pedrosa

Parcerias não é o mesmo que privatização

Cida Pedrosa

A boa iniciativa da Prefeitura do Recife em apresentar o projeto de lei 12/21, ainda a ser apreciado pela Câmara Municipal do Recife a partir da próxima semana, que trata de alterações na lei 17.856 de 2013 sobre parcerias com a iniciativa privada para implementar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do município e do bem estar coletivo tornou-se ontem mote para um artigo da Deputada Priscila Krause que vem confundir a opinião pública sobre conceitos completamente díspares de Parcerias Público Privadas com Privatização.  Antes mesmo dos vereadores terem a oportunidade de se debruçar sobre o PL, o juízo sobre o mesmo já estava colocado sobre a mesa.

O projeto de lei 12/21 pelo que pude observar não é sobre privatizações. Todo o programa Recife Parceria, incluindo o eixo que trata dos parques e praças, se refere a Parcerias Público-Privadas e Concessões. É importante registrar esta diferença em nome da honestidade com o cidadão recifense. Nessas modalidades, diferentemente das privatizações defendidas pelo DEM, o poder público não se desfaz de qualquer ativo, apenas passando para o ente privado, por tempo determinado, a outorga de gerir aquele determinado serviço ou ativo. Ou seja, privatizações são diferentes de concessões ou PPPs.

Essa confusão de conceitos fica ainda mais clara quando o artigo se volta para o Parque das Graças. Cabe lamentar o desconhecimento ou a tentativa de gerar falsos debates. Como Secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife à época da elaboração do projeto, quero esclarecer que, longe de ser uma obra para a elite, ele prevê um sistema de parques integrados ao longo de 15km em cada margem do rio, favorece a integração da população com o Capibaribe e a preservação ambiental por privilegiar o uso de meios de transportes não poluentes, como as bicicletas.

Ao contrário do que foi insinuado, os recursos da ordem de R$ 40 milhões, necessários à implantação do Parque Capibaribe não estão saindo dos cofres do município. O projeto é financiado pelo programa PAC Pavimentação 2 (FGTS), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), cabendo à prefeitura arcar com R$ 9 milhões desse montante.

Aliás, é bom que se diga que essas parcerias com a iniciativa privada não são novidades no Recife. Um dos principais equipamentos de lazer da cidade, o Parque da Jaqueira, conta há muitos anos com a participação de empresas privadas em sua gestão. E nem por isso deixou de ser propriedade do município nem o acesso do público a ele foi limitado.

Em nossa gestão a frente da Secretaria do Meio Ambiente do Recife,  temos exemplos de parceria exitosas, feitas por compensação ambiental, que trouxe importantes benefícios para a cidade, como a revitalização do Cais do Imperador, espaço no Centro do Recife que serviu de píer para o desembarque do imperador Dom Pedro II, em 1859 e que estava totalmente abandonado desde a década de 60.

Desde que sua implantação foi iniciada, o Parque Capibaribe já vem trazendo benefícios para a cidade. Sua pedra fundamental, o Jardim do Baobá (também executado em parceria), transformou-se em um disputado espaço de lazer e convivência, nas Graças, além de valorizar um baobá portentoso, ao qual a população não tinha acesso.

Essa empreitada em defesa e pela valorização do meio ambiente em nossa gestão também incluiu a requalificação do Jardim Botânico a partir de 2013, com aplicação de recursos oriundos de compensação ambiental. Esse investimento transformou o Jardim Botânico do Recife num dos cinco melhores do país, subindo da categoria “C” para categoria “Ana classificação do Ministério do Meio Ambiente, em 2015.

Todas essas conquistas, que impactam diretamente na melhoria da qualidade de vida da população, não podem ser tratadas com obras menores, secundárias. É objetivo do milênio, das Nações Unidas, trabalhar para tornar as cidades mais sustentáveis, o que inclui melhorar a mobilidade urbana e reduzir a emissão de poluentes, finalidades que integram a proposta do projeto Parque Capibaribe.

Em um momento tão crítico para as cidades brasileiras em que além de enfrentarem a pior crise sanitária que qualquer geração viva ja assistiu, também  encaram a maior crise econômica das últimas décadas, é salutar que os governos municipais estejam trabalhando com propostas que possam arrecadar apoios e recursos para melhorar a vida da população.

Investir nesses projetos não significa negligenciar tarefas rotineiras, e sim, ao contrário, significa desonerar os cofres públicos para garantir novos investimentos essenciais para a qualidade de vida das pessoas como o cuidado com a cidade, com seus canais, com os alagamentos. Infelizmente, alguns projetos maiores e mais dispendiosos, como os de habitação precisam contar com o aporte financeiro do Governo Federal. E como todos sabemos, desde o governo Temer, tem havido um desmanche da política habitacional no Brasil.  O tiro de misericórdia foi o fim do Faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida, que garantia a habitação de interesse social para o público de baixa renda.

Com um governo que trabalha para desmantelar todas as políticas sociais, como o de Jair Bolsonaro, dificilmente as cidades poderão desenvolver qualquer projeto sem recorrer às parcerias público-privadas. Sem recorrer a criatividade e inovação.

Cida Pedrosa é advogada, poeta e vereador no Recife pelo PCdoB

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