Bolsonaro, o imorrível, imbrochável e incomível
José Luis
Simões*
Parece que o
presidente Jair Bolsonaro quer bater todos os recordes durante sua passagem
pela presidência da República. Recorde no desmatamento da Amazônia, recorde no preço
do gás e da carne, recorde no aumento do desemprego e da pobreza, recorde no
ataque à imprensa e, por fim, recorde na quantidade de declarações infelizes, que
destoam da importância do cargo que ele ocupa.
Essa semana ele se
autodeclarou imorrível, imbrochável e incomível. Claro, isso também foi uma
estratégia política, afinal de contas ele quer “causar", tirar o foco da
CPI da Covid-19 no Senado, que tanto o incomoda, pois o desenrolar dos
trabalhos da CPI colhe documentos e depoimentos que vão mostrar o que já
sabemos: o governo Bolsonaro foi omisso no combate à pandemia, não fez campanha
para esclarecer a população logo no início, demitiu dois Ministros da Saúde que
se orientavam pela Ciência, ignorou o alerta da Organização Mundial da Saúde,
promoveu aglomerações, desdenhou da capacidade de contágio do coronavírus ao
qualificar a doença como uma “gripezinha” e, o pior, ignorou ou rejeitou as
ofertas de vacinas da Pfizer, no segundo semestre de 2020.
Agora, que chegamos a
quase 450.000 mortes pela Covid-19 no Brasil, o debate ideológico perde para os
fatos: o genocídio já aconteceu.
Mas Bolsonaro é conhecedor
da política brasileira, afinal, já teve vários mandatos de deputado federal,
apesar da baixa produtividade na Câmara dos Deputados. Suas declarações sempre
chamaram atenção pela ousadia em defender a ditadura militar, a tortura, o
antipetismo, o anticomunismo, além de uma visão reacionária de sociedade.
Com medo dessa CPI no
Senado não acabar numa grande pizza, Bolsonaro articula e ainda manda seu filho
(Flávio, o da “rachadinha”) na sessão para agredir o relator da CPI, Renan
Calheiros, chamando-o de “vagabundo”.
Fábio Weigartein, ex-secretário
de comunicação do Palácio do Planalto, mentiu à CPI, mas foi confrontado com
áudio dele próprio à revista Veja numa entrevista em que atribuiu ao Ministério
da Saúde o qualificativo de “incompetência” no combate à pandemia. A coisa está
feia e contra fatos não há argumentos. O relatório dessa CPI provavelmente vai
sugerir o indiciamento de várias personalidades do governo, além do próprio Bolsonaro,
que poderá sofrer um processo de impeachment. Quem foi colocado no poder pelo
povo deve governar para o povo, em benefício do povo, e não a favor do caos, do
vírus e contra a Ciência.
Bolsonaro se
autodeclara imorrível talvez se comparando ao Superman, aquele personagem de
histórias em quadrinhos que é extremamente poderoso, pode voar e é indestrutível,
a não ser quando tem contato com a kryptonita. No caso de Bolsonaro a
kryptonita que lhe enfraquece e causa medo, além dessa CPI, são as eleições
2022.
Imbrochável é uma
questão de foro íntimo, um assunto que ele deveria tratar com sua mulher e
amigos, pois não afeta o bem-estar ou os destinos da nação.
Incomível Bolsonaro
não é. Bolsonaro é indigesto e intragável. Ele é a personificação da
antipolítica, do desequilíbrio, do atraso civilizacional, da falta de bom senso
e da ignorância.
Zé Luís Simões, professor do Centro de
Educação/UFPE
Ilustração: Nando Mota
Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa
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