19 maio 2021

Presidente boquirroto

Bolsonaro, o imorrível, imbrochável e incomível

José Luis Simões*
 

Parece que o presidente Jair Bolsonaro quer bater todos os recordes durante sua passagem pela presidência da República. Recorde no desmatamento da Amazônia, recorde no preço do gás e da carne, recorde no aumento do desemprego e da pobreza, recorde no ataque à imprensa e, por fim, recorde na quantidade de declarações infelizes, que destoam da importância do cargo que ele ocupa.

Essa semana ele se autodeclarou imorrível, imbrochável e incomível. Claro, isso também foi uma estratégia política, afinal de contas ele quer “causar", tirar o foco da CPI da Covid-19 no Senado, que tanto o incomoda, pois o desenrolar dos trabalhos da CPI colhe documentos e depoimentos que vão mostrar o que já sabemos: o governo Bolsonaro foi omisso no combate à pandemia, não fez campanha para esclarecer a população logo no início, demitiu dois Ministros da Saúde que se orientavam pela Ciência, ignorou o alerta da Organização Mundial da Saúde, promoveu aglomerações, desdenhou da capacidade de contágio do coronavírus ao qualificar a doença como uma “gripezinha” e, o pior, ignorou ou rejeitou as ofertas de vacinas da Pfizer, no segundo semestre de 2020.

Agora, que chegamos a quase 450.000 mortes pela Covid-19 no Brasil, o debate ideológico perde para os fatos: o genocídio já aconteceu.

Mas Bolsonaro é conhecedor da política brasileira, afinal, já teve vários mandatos de deputado federal, apesar da baixa produtividade na Câmara dos Deputados. Suas declarações sempre chamaram atenção pela ousadia em defender a ditadura militar, a tortura, o antipetismo, o anticomunismo, além de uma visão reacionária de sociedade. 

Com medo dessa CPI no Senado não acabar numa grande pizza, Bolsonaro articula e ainda manda seu filho (Flávio, o da “rachadinha”) na sessão para agredir o relator da CPI, Renan Calheiros, chamando-o de “vagabundo”.

Fábio Weigartein, ex-secretário de comunicação do Palácio do Planalto, mentiu à CPI, mas foi confrontado com áudio dele próprio à revista Veja numa entrevista em que atribuiu ao Ministério da Saúde o qualificativo de “incompetência” no combate à pandemia. A coisa está feia e contra fatos não há argumentos. O relatório dessa CPI provavelmente vai sugerir o indiciamento de várias personalidades do governo, além do próprio Bolsonaro, que poderá sofrer um processo de impeachment. Quem foi colocado no poder pelo povo deve governar para o povo, em benefício do povo, e não a favor do caos, do vírus e contra a Ciência.

Bolsonaro se autodeclara imorrível talvez se comparando ao Superman, aquele personagem de histórias em quadrinhos que é extremamente poderoso, pode voar e é indestrutível, a não ser quando tem contato com a kryptonita. No caso de Bolsonaro a kryptonita que lhe enfraquece e causa medo, além dessa CPI, são as eleições 2022.

Imbrochável é uma questão de foro íntimo, um assunto que ele deveria tratar com sua mulher e amigos, pois não afeta o bem-estar ou os destinos da nação.

Incomível Bolsonaro não é. Bolsonaro é indigesto e intragável. Ele é a personificação da antipolítica, do desequilíbrio, do atraso civilizacional, da falta de bom senso e da ignorância.

Zé Luís Simões, professor do Centro de Educação/UFPE

Ilustração: Nando Mota

Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa

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