21 maio 2021

Sentimento corrosivo

 

Política e ódio
Marcelo Mário de Melo 

 

Às vezes a ruminação da raiva consome a vontade de lutar. 

Vivenciado e disseminado em explosões individuais ou confrarias, de bolha para bolha, o ódio de torcida organizada aponta para pessoas e grupos. 

Diferente do ódio de classe, que é voltado para o sistema opressor e alimenta teias de revolta e construção. 

O encolhimento da dimensão do ódio nas esferas militantes representa uma vitoria ideológico-psicológica do inimigo. Quebranta o núcleo do humor e da poesia, do viço vital, da criação. E apaga a atratividade. Eros é acorrentado na coleira de Tânatos. 

A desgraça do emocionalismo em política carrega um leque de subprodutos danosos. Entre eles, o ódio amesquinhado. A devoção ao líder 

carismático tomado como guru e figura paterna. A gangorra do otimismo ingênuo com o desencanto cinzento. 

É preciso proteger-se contra esse vírus, buscando uma militância vicejante, saudável, crítica e autocrítica. Com muito amor. E com muito ódio. De classe. Ao $istema.

Marcelo Mario de Melo é poeta e escritor

.

[Ilustração: Francisco de Goya]

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