Todas as pedras se movem
Luciano Siqueira
Para compreender a tensa e complexa situação brasileira dos nossos dias o que menos ajuda são avaliações precipitadas.
Em momentos de maior dificuldade de Bolsonaro, às voltas com
problemas em geral criados pelo próprio e em crescente isolamento político,
não são poucos os que se apressam em proclamar que o presidente "subiu no
telhado".
Por esse raciocínio, o presidente estaria na iminência de ser afastado por um impeachment ou por outra solução institucional pactuada com a presença do Congresso e do STF.
No outro extremo, bolsonaristas esperançosos e oposicionistas pessimistas enxergam na possibilidade de uma retomada da economia e de um
incerto arrefecimento da pandemia, na esteira da vacinação ampliada, o
presidente estaria na iminência de recuperar prestígio e apoios que o
capacitariam a uma hipotética reeleição.
Nenhuma coisa, nem outra.
Sempre é indispensável considerar o conjunto das variáveis em presença, o evolver das contradições e os movimentos táticos do atores mais influentes.
Por exemplo, a tese da frente ampla oposicionista está consolidada?
Em parte sim, em parte não.
A realidade objetiva e a evidência de uma correlação de forças ainda adversa parecem influenciar o comportamento de uns que se convencem, pela prática, que fracionadas as oposições não podem almejar muito.
Outros, que só admitem uma ampla coalizão de forças sob a sua hegemonia, teimam em adiar alianças mais heterogêneas para um hipotético segundo turno do pleito presidencial e persistem em cotoveladas em eventuais concorrentes do mesmo campo.
Já entre os que se desiludem com o presidente em razão da sua notória incapacidade para governar e de suas diatribes contra o regime democrático, porém apostam na agenda neoliberal tupiniquim é recorrente a expectativa de que seja possível uma espécie de força-tarefa capaz de enquadrar o presidente e reconduzi-lo ao cargo para um novo período de menos insensatez e algum resultado concreto.
Sonhar não é proibido, como também ninguém pode impedir que esta ou aquela força política cometa seus desatinos. Entretanto, quem quiser alterar os rumos da peleja há que refletir e agir "com as quatro patas fincadas na realidade", como dizia o revolucionário russo Plekhanov.
Para as oposições, um bom fio condutor pode ser uma plataforma eleitoral que aponte novo rumo para o Brasil pós-governo Bolsonaro.
Veja: Um fator de risco que não se deve subestimar https://youtu.be/VKvI9Ht196U
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