Como a privatização da
Eletrobras é o negócio do século
Luis Nassif, Jornal GGN
A
privatização da Eletrobras é o chamado golpe do século. E beneficia o mais
ladino dos capitalistas brasileiros, Jorge Paulo Lehmann.
A lógica é simples.
Hoje
em dia, o capital da Eletrobras é dividido da seguinte maneira. As ações
ordinárias – com direito a voto – são 51,82% da União, 16,78%o do BNDESPAR,
3,62%o de fundos governamentais e 27,78% de investidores privados. As ações
preferenciais – sem direito a voto – são 13,19% do BNDESPAR e 86,81% de
investidores privados.
A Eletrobrás já tem dois grandes sócios privados, o grupo de
Jorge Paulo Lehmann e J.J.Abdalla. A privatização consistirá em um dispositivo
que impedirá a União de participar do conselho de administração dz empresa; e
na autorização para que as usinas da Eletrobras, que hoje vendem energia
através do mercado regulado, possam vender no mercado livre, a um preço
imensamente superior.
Significará uma explosão no custo da energia, independentemente
dos jabutis colocados pelo Congresso.
Sem precisar aportar um tostão, portanto, os atuais acionistas
da empresas terão uma elevação exponencial no valor de sua participação. Em vez
de uma empresa preocupada em gerar energia barata, se terá uma gestão medida
por sua capacidade de gerar dividendos aos acionistas.
Pela métrica de avaliação de eficiência do mercado – adotada
pela mídia -, o gestor mais eficiente será aquele que cortar todos os
investimentos, tratar de colocar a energia no mercado pelo mais alto valor, e
reduzir todos os gastos em manutenção.
O
estilo Lehmann de gestão é este, conhecido pela visão de curtíssimo prazo, e
pela busca incessante de cortes de custos, redução de investimentos, em
pesquisas, para poder garantir o máximo possível de dividendos. Até hoje, sua
preferência sempre foi por setores tradicionais, com baixa propensão à
inovação, justamente para privilegiar os resultados trimestrais.
Recentemente, esse estilo foi atropelado no mercado de alimentos
pela revolução inesperada do consumidor em favor de alimentos naturais.
Agora, Lehmann assumirá o controle da maior empresa brasileira
de energia, em um momento em que ocorre a mais importante revolução energética
desde o uso do carvão. O setor caminha para as energias naturais, eólica,
solar, biocombustível e hidrelétrica. Há uma mudança radical, com o lançamento
dos carros elétricos; uma pressão cada vez mais por energias limpas, o avanço
da energia distribuída.
As novas formas de energia não dispõem de sistemas de
armazenamento. Se venta muito em determinado período, a energia produzida é
imediatamente gasta. Não há como armazenar. Por isso mesmo, o setor
hidrelétrico é essencial, com suas “baterias” – os lagos acumulando
água-energia. É essa garantia que permite despachar outras formas de energia
quando necessário, mas sempre preservando aquelas de menor custo pra o
consumidor.
Mais do que nunca, a Eletrobras deveria desempenhar um papel
central. É a única empresa de energia a bancar um centro de pesquisas, a
Cepel.
Além
disso, há uma resistência enorme do setor privado em investir em hidrelétricas
e outros investimentos de longa maturação. No Brasil, os grandes investimentos,
mesmo sendo privados, sempre foram feitos com base na segurança proporcionada
pelo setor público, com estatais entrando como sócias e o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) financiando.
Essas duas pernas estão sendo desmontadas. E isso em um momento
em que, mais que nunca, o setor exige um planejamento meticuloso do futuro.
Mais uma vez, a financeirização se impõe sem que um setor sequer
– governo, Congresso ou mídia – se importem em defender os chamados interesses
difusos.
.
Veja: Em
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