30 junho 2021

Firme e sempre renovado

Mil vezes “extinto”, PCdoB segue avante!
Adalberto Monteiro
www.pcdob.org.br

 

Estadão neste domingo, 27, cravou, talvez, pela milésima vez, uma manchete que retrata uma obsessão antiga das classes dominantes brasileiras: o fim do PCdoB. Para tal, a matéria, intitulada “O fantasma da extinção ronda os comunistas”, tergiversa, contorce os fatos.

Haroldo Lima, histórico dirigente do PCdoB, que faleceu recentemente vítima da Covid-19, retratou que, quando preso no episódio que entrou para história como “Chacina da Lapa”, o policial-torturador, todo arrogante, proclamou: “Comunico-lhe que o seu PCdoB acabou.”

E o torturador mostrou a Haroldo os jornais do dia, entre eles O Estado de S. Paulo, com manchetes sobre o ataque da repressão, em 16 de dezembro de 1976, a uma casa no bairro da Lapa, cidade de São Paulo, onde ocorria uma reunião clandestina do Comitê Central do PCdoB.

Os coronéis da República Velha pretenderam sepultar o Partido Comunista do Brasil ainda no berço, quando ele nasceu em 1922. Mas, assim como não conseguiram sufocar os ventos irruptivos da Semana de Arte Moderna de 22 e nem a rebelião dos tenentes, também foram malsucedidos no intento de liquidar a legenda que nascera das lutas da classe trabalhadora brasileira e do grande projeto emancipador do socialismo que triunfara na velha Rússia.

O verdugo Filinto Muller, chefe da Polícia Política do Estado Novo, também chegou a vociferar o fim do PCB, como então era a sigla do Partido. E olha lá ele, 1943, ressurgindo na Conferência da Mantiqueira. Prestes, o Cavaleiro da Esperança, preso cruelmente numa solitária, e seus camaradas João Amazonas, Pedro Pomar, Maurício Grabois, Diógenes Arruda Câmara, Carlos Marighella, Mário Alves, entre outros, nos subterrâneos da liberdade, como bem disse Jorge Amado, reconstruíram o Partido célula a célula, tecido a tecido.

Depois, veio o vento forte e bom da democracia. E daqui jogando nosso olhar aos anos 1940, lá está o Partido se expandido aos borbotões. Que timaço comunista na Constituinte de 1946! Dois anos depois, o registro cassado e os mandatos também.

Nos anos 1950, veio o grande cisma no movimento comunista mundial, que impacta os comunistas brasileiros e sua legenda. Em 1962, um coletivo com olhos atilados de águia, com Amazonas, Grabois e Pomar à frente, garante a continuidade revolucionária do Partido fundado em 1922.

Em 1964, a democracia é uma vez mais ceifada. Pelas liberdades, os comunistas vão, de armas nas mãos, às selvas da Amazônia, nas terras banhadas pelo Rio Araguaia, para, junto com a população local, protagonizar a resistência armada mais prolongada contra a ditadura. Para punir essa ousadia, os generais prometem assassinar uma a uma as lideranças comunistas. Não conseguiram. Em 1986, lá está o PCdoB, com uma bancada eleita à Constituinte.

E veio um tremor de terra no triênio 1989-1991. Época de desertores. Na terra sem amos voltou a tremular a bandeira dos czares. Na bolsa de apostas dos opressores também se vaticinava que o PCdoB quando muito durava mais um ano.

E podemos vê-lo, adiante, em 2012, celebrando 90 anos, com Renato Rabelo à frente, com uma bancada de parlamentares tão expressiva quanto a de 1946, armado com um Programa que descortina a luta agora e já por um Novo Projeto Nacional de desenvolvimento como caminho brasileiro para o socialismo. O Partido escreve uma nova síntese de sua história na qual valoriza de igual modo o conjunto de suas lideranças e gerações: Astrojildo Pereira, Luís Carlos Prestes e João Amazonas.

Daí chegamos ao Brasil dos dias de hoje, de ponta-cabeça. O país sob jugo de um governo neofascista. A democracia em risco. Regressão civilizacional em toda linha. Uma pandemia com a envergadura de catástrofe nacional.

No curso da grande derrota das forças progressistas em 2018, o Partido, devido às circunstâncias, mas também a debilidades que é desafiado a superar, não ultrapassou a cláusula de barreira. Mas se recompôs, com a união que empreendeu com um partido revolucionário, marxista e patriótico, o Partido Pátria Livre (PPL).

Neste ambiente, o bolsonarismo ecoa o grito atávico dos fascistas e jura de morte o Partido Comunista do Brasil, ameaça extensiva aos socialistas, ambientalistas e antirracistas. Primeiro passo, como disse Luciana Santos, para sepultar a democracia.

O bolsonarismo se vale de uma legislação que mutila o pluralismo partidário, a cláusula de desempenho e o fim das coligações partidárias.

O PCdoB participa de um movimento amplo para aprovar a federação de partidos, inovação democrática que assegura a diversidade da democracia brasileira.

O Partido sabe da importância da luta parlamentar, sabe dos imensos danos que lhe serão impostos caso, finalmente, como tentam desde a redemocratização, em 1985, consigam arbitrariamente excluí-lo institucionalmente do parlamento.

Buscará alternativas para garantir sua presença institucional nas casas legislativas. E, de um modo ou de outro, a preservará.

Todavia, qualquer solução ao bloqueio autoritário que investe contra a representação parlamentar do PCdoB e de outras legendas tem de estar subordinado ao pressuposto de garantir a sua continuidade histórica, preservar a identidade e autonomia orgânica da legenda centenária, como assim se pronunciou a presidenta do nosso Partido Luciana Santos, no último dia 27, no mesmo dia que foi divulgada a referida matéria do Estadão. Como assim está selado numa Resolução Política do Comitê Central.

Esse pressuposto não é uma proclamação abstrata. Decorre de um aprendizado em cem anos de história.

A longevidade do Partido Comunista do Brasil vem do fato de ter conseguido, em qualquer circunstância, igual à uma árvore, ter se enraizado no solo pátrio e nas lutas do povo, ter preservado sua autonomia orgânica, sua identidade consubstanciada no seu Programa, na sua teoria, o marxismo-leninismo, no seu orgulho de pertencer à corrente revolucionária mundial dos comunistas, e na sua orientação política independente com qual atua no curso da luta de classes.

*Jornalista e poeta. É secretário nacional de Comunicação do PCdoB.

Foto: Pedro Caldas

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