O ‘Fora Bolsonaro’ de 19 de junho será ainda
maior
Agradeço, emocionada, aos milhares de mensagens de
solidariedade e afeto que recebemos, eu e minha família, depois de tornarmos
públicas as ameaças de morte e estupro que sofremos, respectivamente, eu e
Laura, minha filha de 5 anos. Sei que muitos me desejam força, e creio que
nesses anos todos reuni bastante dela. Mas a verdade é que, no fundo, nós só
desejamos viver em paz, em um país em que o fato de eu ser mulher de esquerda
não nos coloque em risco. Para isso, precisamos que os autores de de ameaças
como essas sejam identificados. Precisamos também reconhecer que a violência,
elemento fundante do Estado brasileiro é crescentemente utilizada por grupos de
extrema direita para a disputa política.
Por Manuela d’Ávila*, www.pcdo.org
Às vezes, as ameaças são diretas, noutras a produção e distribuição de
desinformação e mentira atiçam as redes e os grupos de ódio. É evidente que
esses não são processos construídos separadamente. É justamente dessas redes de
ódio agitadas pelas chamadas fake news que, eventualmente, emerge um “lobo
solitário” disposto a intimidar, agredir e ameaçar. O “bolsonarismo” parece
unir-se menos por um projeto comum de país e mais pelos métodos políticos,
calcados no discurso de ódio, na violência política de gênero e misoginia, na
produção e distribuição de mentiras, desinformação, negação da ciência e
autoritarismo. Essa é mais uma das razões pelas quais temos urgência em
derrotar Bolsonaro.
Desde o início da pandemia temos refletido nos partidos políticos e
movimentos sociais como agir diante de um governo que trouxe esse método de
fazer política para o enfrentamento à Covid-19. Lá atrás, a luta pelo auxílio
emergencial foi travada com muita consciência e engajamento no ambiente sanitariamente
seguro das redes sociais. Mas se passaram 15 meses. A negação das vacinas, a
persistente prorrogação da pandemia, o descaso com os nossos entes queridos que
se foram. Quase meio milhão de brasileiras e brasileiros se foram.
E no último dia 29, milhares de brasileiros foram às ruas em todos os
cantos deste imenso País para afirmar que é preciso interromper este governo
nefasto antes do fim. Esses manifestantes, aos quais me somo, foram às ruas sem
deixar de temer o vírus, mas garantidos por medidas de segurança e proteção
(tal qual usavam as profissionais de saúde quando ainda não tínhamos vacinas),
com consciência de que se um povo cioso com a pandemia sai às ruas durante uma
pandemia é porque o presidente e seu governo são mais letais e perigosos que o
próprio vírus. Bolsonaro não preservou a vida do povo, a economia, os empregos.
A sistemática precarização das condições de vida dos trabalhadores e
trabalhadoras refletiu-se na redução dos indicadores de bem-estar social e
econômico. Queremos vacina para todos, comida na mesa.
Uma nova e pujante onda de mobilizações tem ocorrido nos últimos meses
em diversos países da América Latina. Por meio da indignação presente nas ruas,
Chile, Bolívia, Peru e Colômbia apresentam caminhos de resistência com mobilização
social. Países vizinhos colhem os êxitos da pressão popular que, vejam, se
articula também nas redes sociais e em pequenos movimentos organizados. É
preciso que o campo progressista esteja atento a essas mudanças. A grande
vitória da esquerda chilena, por exemplo, , calcada na presença política de
mulheres jovens, nos deixa pistas sobre por onde andar. A intensa mobilização
na Colômbia e a derrota de Keiko Fujimori no Peru também. Apesar de realidades
muito díspares, essas vitórias têm algo em comum: o peso da mobilização social
e política.
Por isso, acredito que, no próximo dia 19 de junho, as ruas serão
tomadas por ainda mais gente. Sei que essa não é uma decisão fácil. É preciso
respeitar e acolher quem decide ficar em casa. Mas eu e minha família, munidos
de máscaras e equipamentos adequados, os distribuindo quando possível,
guardando distanciamento, estaremos nas ruas lutando para derrotar este governo
genocida que não para de matar os nossos amores. Venceremos.
*Foi deputada federal e estadual pelo PCdoB.
Artigo publicado originalmente em Carta Capital 13/06/2021
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Veja: É preciso cuidar agora para evitar o pior https://youtu.be/VKvI9Ht196U
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