07 junho 2021

Pivô de tensões

Espinha na garganta
Luciano Siqueira 

Segue repercutindo a ausência de qualquer punição ao general Pazuello por haver desrespeitado Regulamento Disciplinar do Exército e comparecido a uma manifestação pública de caráter nitidamente político-eleitoral.

Uma profusão de declarações, entrevistas e artigos segue martelando a percepção de que o general comandante do Exército teria faltado com a sua obrigação de defender dois princípios basilares das Forças Armadas A, a hierarquia e a disciplina.

Óbvio que tanto o presidente da República, que convidou o general ex-ministro da Saúde, e ele próprio tinham plena consciência do que estavam fazendo.

Para o presidente, mais uma provocação destinada a tensionar suas relações com as Forças Armadas, do Exército em particular, no sentido de disseminar na caserna um ambiente que ele supõe possa ser favorável a uma aventura golpista.

O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, por sua vez, viu-se numa sinuca de bico, uma vez que o ato de indisciplina cometido pelo seu subordinado aconteceu justamente por iniciativa do assim denominado pela Constituição comandante-em-chefe das Forças Armadas, seu superior portanto.

Optou por não punir Pazuello com o argumento de que o general intendente teria prestado os esclarecimentos devidos.

O fato é que o intuito golpista de Bolsonaro é marca essencial do seu comportamento desde o primeiro dia de governo.

Golpes têm sido perpetrados contra a democracia pelo mundo afora não mais nos moldes dos anos 60, com intervenção militar direta.

Como aconteceu no vizinho Paraguai e posteriormente no Brasil, contra a presidente Dilma Rousseff, a modalidade de golpe vigente implica em conluio o parlamento e o judiciário e o respaldo da grande mídia monopolizada e de verdadeiras milícias digitais, que ocupam redes sociais e aplicativos como verdadeiro tsunami de fake news destinadas a confundir e a conquistar o apoio ou a indiferença passiva da maioria da população.

De toda forma, para que algo aconteça sob a batuta de Bolsonaro, terá que contar no mínimo com a complacência das Forças Armadas.

Neste instante, Bolsonaro tem contra si a maioria da grande mídia convencional, guarda uma relação de conflito constante com o STF e com o Congresso Nacional (apesar de maioria circunstancial) e amarga, em sucessivas pesquisas, crescentes índices de rejeição e desconfiança.

A agressividade recorrente do presidente e seguidores mais próximos que habitam o ambiente palaciano guarda relação direta com a percepção de que quanto mais se agrava a crise do país, maior é a insatisfação de segmentos cada vez mais amplos da sociedade e o seu isolamento político.

Incompetente e politicamente desnorteado, tudo leva a crer que Bolsonaro cumprirá o restante do seu governo amargando crescentes dificuldades e dificilmente comparecerá às eleições de 2022 em posição de força.

Na outra ponta do conflito, cabe às oposições de diversos matizes combinarem a crítica e o protesto imediato com a formulação de propostas alternativas destinadas a mudarem o rumo do país no novo ambiente a ser conquistado, pós-Bolsonaro.

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Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa


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