Uma doença que deixa marcas
PLÍNIO
LOPES E RENATA BUONO, revista Piauí
Desde o começo da
pandemia, mais de quatro milhões de pessoas já morreram de Covid-19. No Brasil,
o segundo país em número total de mortes, são mais de 540 mil. Apesar de
enorme, o número de pessoas mortas não conta todo o drama causado pelo
Sars-CoV-2. Estudos mostram que mesmo pacientes recuperados da Covid sofrem com
os chamados sintomas persistentes da doença. Em média, 73% das pessoas que
tiveram Covid-19 relataram algum desses sintomas. Pouco mais de um terço dos
recuperados agoniza com falta de ar por semanas, 40% têm fadiga ou exaustão,
30%, problemas para dormir, e 20%, perda de cabelo. Depois de se recuperar da
Covid-19, o risco de morte aumenta até oito vezes comparado ao de alguém
que não teve a doença. O =igualdades detalha as sequelas deixadas pela Covid.
Cientistas
americanos realizaram uma revisão sistemática de outros 45 estudos envolvendo
9,8 mil recuperados da Covid-19 de todas as regiões do mundo. Eles descobriram
que aproximadamente 73% dos pacientes relataram pelo menos um sintoma persistente
– que durou semanas ou meses. Esses sintomas, que variam entre falta de ar,
exaustão, problemas no sono, depressão, entre vários outros, persistem depois
da fase aguda da infecção pelo vírus e afetam a saúde e a qualidade de vida das
pessoas.
Não
é apenas o pulmão que é afetado pela Covid-19. Outros órgãos vitais, como
fígado e rins, também sofrem com a ação do vírus. É comum, principalmente em
casos graves da doença, que pacientes precisem passar por diálise porque os
rins não conseguem dar conta de filtrar o sangue. Pacientes que estavam
internados em hospitais ingleses e se recuperaram da Covid-19 foram
diagnosticados com uma maior disfunção dos órgãos e mais problemas no coração,
no fígado e nos rins do que aqueles que ficaram internados por outros motivos.
Os eventos cardíacos adversos e a doença hepática crônica foram diagnosticados
três vezes mais em quem teve Covid-19 do que em quem não teve; e a doença renal
crônica foi diagnosticada duas vezes mais. Apesar de ter uma taxa menor, a
diabetes também foi diagnosticada 1,5 vez mais em quem teve a doença do que em
quem não teve.
Um
dos sintomas persistentes mais relatados por pacientes que se recuperaram da
Covid-19 é justamente a falta de ar ou dispneia. No total, 26 estudos
encontraram relatos desse sintoma, com taxas que variam de 14,6% até 74,3% dos
pacientes examinados. Na média de todos os estudos, cerca de 36% das pessoas
disseram continuar sentindo dificuldade para respirar por semanas ou meses
depois de se recuperarem.
Depois
de se recuperarem da Covid-19, pelo menos um terço das pessoas têm insônia ou
dificuldade para dormir. E cerca de 20% relataram queda de cabelo que continuou
por vários dias depois da infecção. É o que mostra uma revisão sistemática de
vários estudos científicos feita por cientistas americanos. Os pesquisadores
ainda não sabem se é o próprio vírus que causa esses sintomas, se é o estresse
acumulado depois de ter se recuperado da doença ou se é uma mistura de ambos –
mas sabem que isso acontece e que afeta a qualidade de vida e a recuperação dos
pacientes.
Cerca
de 78% dos pacientes recuperados da Covid-19 que foram submetidos a exame de
ressonância magnética cardíaca apresentaram algum tipo de achado anormal no
coração, chamado de envolvimento cardíaco. Do total, 60% dos recuperados tinham
algum sinal de inflamação no miocárdio. O estudo alemão analisou 100 pacientes
entre hospitalizados (33) e pessoas com sintomas leves e tratadas em casa (67),
independente de condições preexistentes, da gravidade e do curso geral da
doença.
Depois
da alta hospitalar, pessoas que estavam internadas por Covid-19 têm risco três
vezes maior de precisar retornar ao serviço de saúde do que quem estava
internado por outro motivo. Das 47,8 mil pessoas com Covid-19 analisadas no
estudo, 14 mil precisaram voltar ao hospital nas semanas depois da alta – uma
taxa de 29,4%. Entre os sem Covid-19, a taxa foi de 9,2%.
Depois
de receber alta do hospital, o risco de morrer é maior para quem estava
internado por Covid-19 do que para quem estava internado por outras doenças.
Dos 47,8 mil pacientes que receberam alta da Covid-19, 5,9 mil morreram semanas
depois de recuperados – uma taxa de 12,3%. Entre os pacientes sem Covid-19, e
com as mesmas características e comorbidades, a taxa foi de 1,7%.
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Veja:
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