Reminiscências...
Ronald Freitas*
Nos últimos dias, a propósito
das comemorações que ocorrem na China em virtude dos 100 anos de existência do
Partido Comunista Chinês, os grandes meios de comunicação, as mídias sociais,
analistas políticos e palpiteiros em geral têm se manifestado acerca do
significado dessas comemorações. Conforme o viés político-ideológico de cada
um, tais análises e palpites saúdam ou criticam, ou relativizam a importancia dessas
efemérides. Mas todos eles não conseguem esconder uma verdade cristalina: a
China vive nos dias atuais o mais espetacular processo de desenvolvimento, econômico,
tecnológico, de inclusão social, e afirmação nacional soberana, em todo o
mundo. E todos eles também não conseguem esconder que uma das causas desse
fantástico êxito da China é que esse processo é conduzido pelo Partido
Comunista Chinês, a celebrada instituição que comemora 100 anos de existência.
Isso me trouxe
reminiscências da juventude, quando, na segunda medade da década de 60 do
século passado, estive pela primeira vez na China, ou melhor dizendo na República
Popular da China. Ali fui a convite da Associação de Amizade China e os povos
da América Latina. Passei alguns meses por lá, conhecendo, estudando e tentando
compreender o significado do processo político, de cunho revolucionário, que,
sob o comando do Partido Comunista Chinês, tinha derrotado as forças
reacionárias internas e externas e iniciava um processo de reconstrução nacional,
tendo como objetivo a construção do socialismo. Era a época da criticada e
controversa Revolução Cultural Proletária, e o país também estava no centro das
atenções mundiais com o que ali se passava. Tempos de auge da guerra fria, de
possibilidade de confronto nuclear entre as superpotências da época, de ameaças
à paz mundial, de disputa acirrada na corrida armamentista, de cisma no mundo
comunista – a famosa disputa Sino-Soviética –, e de intensa luta de ideias
sobre o rumo que a humanidade deveria seguir para continuar sua saga
civilizatória. A China e seu Partido Comunista estavam no centro desses
acontecimentos. E eu – um jovem brasileiro, cheio de sonhos e vontade de
transformar meu país, o Brasil, em uma pátria moderna, soberana, socialmente
justa, livre da ditadura militar que nos sufocava – ali desembarquei, junto com
outros companheiros, que comungavam dos mesmos sonhos, e vivemos dias intensos
naquelas plagas.
Em função dos
objetivos da visita, além de estudarmos a experiencia da revolução e do início
de construção do socialismo que ali se desenvolvia, tivemos oportunidade de
viajar por muitos lugares desse grande e belo país.
Foi uma época em que
ainda eram visíveis as sequelas da dominação estrangeira, e das classes
reacionárias internas, sobre o povo, e mesmo da guerra de libertação que esse
povo teve de desenvolver para se emancipar. O país era pobre, mesmo para os
padrões de um jovem nordestino do interior piauiense. As moradias eram simples,
a comida frugal, as cidades vazias de carros e dominadas por bicicletas nos
chamavam a atenção. Nada da exuberância de hoje. Quando vejo a Xangai, a
Pequim, a Nanquin, a Cantão – que naquela época visitamos – , dos dias de hoje, fico a imaginar como foram
céleres o crescimento, o desenvolvimento, a melhoria das condições de vida do
povo chinês em todas as dimensões. E é inescusável refletir como isso pode ter
acontecido. E a resposta a essa pergunta – que comporta uma análise
multilateral e multidisciplinar, que não é o objeto destas reminicenscias – só
será judiciosamente encontrada se tiver como eixo principal de análise o papel
que nessa saga jogou, e continua jogando, o Partido Comunista da China que
completa 100 anos de existência.
Partido fruto dos
reflexos da Revolução Russa de 1917 – como o PCdoB e inúmeros outros que também
estão completando, ou completaram, 100 anos recentemente –, o PCCh é a alma e a
matéria da China moderna, pela polítca com que orienta o país, e pelos militantes,
quadros e líderes que implementam essas políticas. E enquanto jornalistas,
analistas e demais palpiteiros, de uma maneira ou de outra, ligados aos valores
hegemônicos do capitalismo ocidental, não compreenderem esse fenômeno,
continuarão avaliando os êxitos chineses de forma distorcida.
Voltei outras vezes à
China, não tantas quanto gostaria, mas a primeira vez é a mais marcante. Aquela
que a gente nunca esquece.
*Ronald Freitas, advogado
e membro da Direção Nacional do PCdoB
.
Veja:
Para entender a crise mundial que atinge o Brasil https://bit.ly/3jsdHIs
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