05 julho 2021

Palavra de poeta: Manuel Bandeira

Nu

Manuel Bandeira
 
Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.
 
(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.
 
Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.
 
Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.
 
Teus exíguos
— Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos —
 
Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!
 
Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.
 
Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.
 
Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu’alma
Nua, nua, nua...

[Ilustração: Fernando de Szyszlo]

Veja: Poeta cantador se faz romancista https://bit.ly/3wJylaT

Nenhum comentário:

Postar um comentário