18 julho 2021

Pazuello negociou o que não devia

Eduardo Pazuello negociou vacina com triplo do preço e fora da agenda
A Folha de S.Paulo divulgou vídeo do ex-ministro da Saúde anunciando a negociação com World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior. O fato contradiz o general da ativa que disse à CPI que não negociava vacina
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Ao contrário do que disse aos senadores da CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello negociou a compra de 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac pelo triplo do preço ofertado pelo Instituto Butantan, o primeiro a fornecer o insumo ao governo brasileiro. A negociação aconteceu fora da agenda oficial do ministro no dia 11 de março. A Folha de S.Paulo teve acesso ao vídeo que já está sob o poder da CPI.

O conteúdo do vídeo contradiz o depoimento dado pelo general da ativa aos senadores da CPI em maio passado. Com ar até prepotente, ele disse que o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), deveria saber que o “dirigente máximo” da pasta não negocia vacina, sendo o acordo feito pelo “administrativo, não o ministro.”

“Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o ‘decisor’, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro. Se o ministro… Jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso”, disse Pazuello à CPI.

Pazuello aparece ao lado de quatro pessoas que representariam a World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior. A gravação foi realizada no gabinete do então secretário-executivo da pasta, o coronel da reserva Elcio Franco. Nela, Pazuello relata o que seria o resumo do encontro.


“Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população”, diz o então ministro, segundo quem a compra seria feita diretamente com o governo chinês.


O jornal também teve acesso a proposta da World Brands, Nela, a empresa oferece 30 milhões de doses da vacina do laboratório chinês Sinovac pelo preço unitário de US$ 28 a dose, com depósito de metade do valor total da compra (R$ 4,65 bilhões, considerando a cotação do dólar à época) até dois dias após a assinatura do contrato.


Naquele dia, 11 de março, o governo brasileiro já havia anunciado, dois meses antes, a aquisição de 100 milhões de doses da Coronavac do Instituto Butatan, pelo preço de US$ 10 a dose. A demissão de Pazuello seria tornada pública por Bolsonaro quatro dias depois, em 15 de março.


No vídeo, um empresário que Pazuello identifica como “John” agradece a oportunidade do ministro recebê-lo e diz que podem ser feitas outras parcerias “com tanta porta aberta que o ministro nos propôs”.


Após a gravação, de acordo com os relatos colhidos pela Folha, parte da equipe do ministro pediu que os empresários não compartilhassem o vídeo, que foi feito por meio do aparelho celular do empresário identificado como “John”.

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